Já estamos todos a postos para o grande lançamento do mercado editorial brasileiro do ano de 2011. Como chama o oscar do livro mesmo? Então. Favoritíssimo. Estamos falando do ROCK BOOK, coletânea de contos q a Editora Prumo leva para as livrarias de todo o brazil. Monte de escritor foda na história, e esse danislau pra constar como exceção. Taqui o convite virtual, com a escalação completa. Primeiro tempo na livraria da vila. Segundo tempo (22h) na mercearia são pedro. té jajá?


texto do marcílio sobre o carniça

E correu tudo maravilhosamente na estreia do CARNIÇA, esse fim de semana em sampa. Sei q estou devendo explicações sobre esse projeto, mas dívida para com o mundo é comigo mesmo, talento nato, vcs sabem como é.

No momento estou em retiro físico-espiritual entre as praias do litoral norte de são paulo, mas assim q voltar ao batente subo audios e videos, pq três youtubes e um picasa valem mais q mil palavras.

Em todo caso, preciso dizer q as palavras do meu amigo e consultor pessoal (e guru) Marcílio Lucas valem mais q mil youtubes.

É q o Marcílio, há mais de um ano, escreveu um texto sobre o Carniça, assim q teve seu primeiro contato com o material. Agora q o Carniça ganhou mundo, talvez seja hora desse texto tb vir brilhar aqui nas piscinas de elétrons dos monitores de nosso brazil. Reproduzo abaixo, com todo orgulho - esse é um grande momento do Star Putz - o texto do Marcílio.

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NICE TO MEET YOU, CARNIÇA

Ao se deparar com “CARNIÇA - uma áudio-ficção de danislau também”, o que pensar que vem por aí? Melhor nem tentar adivinhar: “Carniça” vai te pegar despreparado de qualquer maneira. Em “Carniça” permanece um traço marcante dos trabalhos de danislau: a vivacidade ao absorver o eterno do transitório, o poético do histórico. Seu foco na trivialidade mundana faz aparecer os lugares onde a história real é feita, antes de ser representada. Postos de gasolina, barracos malarrumados, lanchonetes semi-abandonadas, pátios de escola e as ruas da cidade. Eis os locais que Danislau costuma percorrer, eis a matéria-prima que costuma deglutir, para nos fornecer um conjunto de imagens envolventes, por serem, ao mesmo tempo, claras e inebriantes.

Na áudio-ficção ora lançada, as ruas, as calçadas e os viadutos são o lócus privilegiado, são o lócus de Carniça. E quem é Carniça? Carniça não toma banho, vive o torpor das drogas, ama a doce Doraluce e odeia Natanael. Por quê? Porque Natanael não toma banho, vive o torpor das drogas e ama a doce Doraluce. O enfrentamento é inevitável. O bairro Santa Mônica é pequeno demais para dois jovens que são um só. No entanto, a trama não se encerra nesse triângulo desamoroso. Ismael, o pastor decaído e decadente, pretende salvar Carniça pela força da lembrança de seu nome de registro: “Vamo sair dessa, Luiz?”. Mas Carniça se mostra impassível. Está feliz com a nuvem de mosquito que o acompanha e seguro de sua escolha pela lama, num tempo-espaço sem alternativas. A proximidade à sujeira do solo dá a Carniça uma tranqüilidade comovente. “Não se preocupe, porque do chão eu não passo”, afirma nosso intrépido herói, com toda serenidade de quem não quer crescer na vida. Serenidade que beira à altivez, como se demonstra na forma insolente com a qual abandona sua ex-posa, Juliete. Serenidade que beira ao deboche quando Carniça exige que seu inimigo pague sua prestação do celular. É que a escória tem suas vantagens; e Carniça pode sair dando ordem por aí. Perder liberta. Carniça perdeu tudo e ganhou a liberdade. Quase toda: a única coisa que o prende é o amor por Doraluce. Afora isso, não tem nada a perder, a não ser seu mau-cheiro.

Danislau nos apresenta a sujidade das ruas, mas não o faz por meio de uma apologia da escória. Ele não embarca na marginalidade convencional de simplesmente afirmar a “beleza do sujo”. O autor de “Carniça” é mais engenhoso e, a partir desse ambiente pesado, consegue nos brindar com imagens marcantes, revelando a sensibilidade de alguém para quem nada que é humano é estranho. Como bom “homem do mundo”, no sentido baudelairiano, Danislau é apaixonado pela compreensão sutil do mecanismo moral que nos rodeia. E, para tanto, em “Carniça”, vale-se da estratégia perspicaz de fazer poesia mostrando a miséria do mundo pela ótica particular de Carniça. Machado de Assis teve a grande de sacada de apontar o ponto de vista de um defunto como privilegiado, pois a sua posição além-vida garante o desprendimento, a franqueza e o desdém necessários para por à vista a mediocridade e as vacilações humanas. Danislau provavelmente não discorda, mas nos oferece outro ponto de vista não menos estratégico: o do abjeto, o de Carniça, livre das hesitações geradas pelo medo de perder.

Mas a liberdade presente em “Carniça” não é abstrata. As escolhas aparecem junto com os dilemas e as opressões do mundo. O campo de possibilidades de escolhas é limitado, pois a realidade só pode colocar as questões às quais é capaz de responder. À Natanael, por exemplo, coube escolher entre ser servente de pedreiro ou servente da pedra. A cabeça pensa onde o pé pisa. Além disso, “Carniça” revela que toda escolha tem o peso do rompimento. Escolher um caminho é abandonar outro. Assim, o “ex” ganha centralidade. Juliete é ex-posa de Carniça. Doraluce é ex-namorada de Natanael. Natanael – e também poderia ser Carniça – é ex-catequista da igreja, ex-coroinha do padre, ex-bailarino de funk, ex-baterista de samba e... ex-futuro-servente de pedreiro. Escolher entre alternativas é abandonar um ex, seja ele do presente ou do futuro. De qualquer forma, escolher é abandonar; escolher é excolher.

Essa teia entre liberdade, escolhas e seus limites é arrematada com o último personagem: Abílio Dias, o cantor da desgraça do mundo, com a risada mais linda do brasil. Apresentando seu inebriado e inebriante programa de jornalismo-desgraça, Abílio nos traz um “você decide” sem possibilidade de escolhas. O noticiário psicodélico coroa o fim da desventura de Carniça, mostrando o peso das escolhas, mesmo quando não existem alternativas. “Câmera, dá pra pegar o mosquitinho desse homem? Mostra a nuvem de mosquito em cima da cabeça desse homem!”. Sensacionalismo? Jornalismo barato que se aproveita da desgraça alheia? Nada disso. Abílio se exime dessa crítica, pois ele não faz a notícia: “a notícia quem faz é esse mundo sujo e escandaloso que você habita”. Abílio não tem culpa e você, telespectador, não pode reclamar, porque o final, você decide!

Mas falar dessa áudio-ficção somente pelo viés literário seria uma injustiça perante a melodia simples, porém irrepreensível de “Carniça”. A musicalidade – ora intensa, ora suave, mas sempre bem concebida – desenha o ambiente e constrói o ritmo das aventuras de Carniça, já a partir das duas primeiras faixas em que se apresenta o duelo com Natanael. Essa sonoridade versátil segue seu caminho no desabafo de Carniça, em “Juliete”; no desespero do pastor Ismael para “salvar” Carniça (em “Luis Henrique”) ou para tentar sair do seu próprio barraco (em “Pastor Ismael”); e na viagem surreal de Abílio na faixa que encerra a obra, gravada em um take só. Mas o destaque fica para outras duas faixas. Primeiro para “oi meu nome é carniça”, faixa dançante de auto-proclamação, que poderia cair bem em qualquer balada noturna, mostrando que o descompasso da vida de Carniça também pode ser uma batida perfeita. Do mesmo modo, merece nota o momento perfumado desta trama marcada pela ausência de banho: a faixa “Doraluce”, baladinha romântica com direito a crianças brincando ao fundo, que pinta com primor a doçura da moça xodó-da-professora-e-de-todo-mundo.

Depois de tantas palavras, como definir sinteticamente este trabalho de danislau também? É uma ópera marginal sobre um malandro dos tempos de explosão do crack, das neopentencostais e do jornalismo-desgraça. Por isso, Carniça não tem a elegância do malandro carioca dos 40’s, presente na ópera do Chico. E seu duelo com Natanael não tem o ar de luta do bem contra o mal, como o duelo entre João de Santo Cristo e Jeremias nos 70’s, na conhecida áudio-ficção da legião. “Carniça” é mais atual e, apesar de despretensioso, é mais abrangente, porque uma investigação mais cuidadosa pode mostrar que “carniça” somos nós e nosso mundo fedorento. Quem quiser saber mais, que investigue o Carniça: tampe o nariz com uma mão e meta o play com a outra.

ENUGBAMIJO - A Boca que Tudo Come

Gente, contar pra vcs: é que semana que vem, dia 22 de outubro, em sampa, vai rolar o Festival ENUGBAMIJO - A Boca que Tudo Come. Uma iniciativa muito bonita da Serena Assumpção e do Eduardo Brechó. Aqui está o flyer do evento (clique parar ampliar), com toda a programação e demais infos. Vcs vão ver q está prevista a estreia do meu CARNIÇA, às 19 horas. Tudo no charmosíssimo Centro Cultural Rio Verde. Todos convidados, conto com a presença dos amigos.