restarting

retomar o contato com o blog da gente parece tentar reatar relação amorosa já encerrada

o papo fica meio empacado, no começo

não. o papo até corre tranquilo. e conversar é a coisa mais fácil q existe.

mas o contato.

por onde recomeçar?

namorar é, mais q qq coisa, uma continuidade

qdo se descontinua um namoro, primeira coisa q desce garganta abaixo pelo gargalo da descarga é a naturalidade dos movimentos conjuntos

nossa, q frase grande

tá difícil recomeçar o namoro com esse blog

não sei por onde começar

comecei

comecei mal, pelo jeito

vou ali

COLUNA MUSICAIS

FOGO DELICADO

Acendem-se os fogos do bairro Santa Mônica. As primeiras luzes dos postes, as mil churrasqueiras fumegantes, o forno de barro das pizzarias. As lanhouses e casas de videogame revelando a expressão contrita dos meninos com joystick na mão - os olhos refletindo a fogueira de elétrons que é o monitor diante do qual estão sentados.

Passear pelo bairro Santa Mônica, quando cai a noite, é transitar por entre incêndios. Isso pra não falar nos incêndios vespertinos. Porque a nudez, aqui, é praticada com requinte. Nem na África deve haver tantas meninas bonitas. É que o pessoal do bairro se veste com toda a sofisticação do mundo: o pessoal sabe se vestir justamente porque sabe se despir. Dou notícia também que os meninos são bonitos. Arrastam o chinelo no chão com malemolência, uma ou outra medalha de rapper sobre o peito. E toda gentileza e cortesia no trato.

Assim é o bairro Santa Mônica: um ambiente de vivências estéticas. Um bairro em erupção. Uberlândia inteira é assim? Certamente. Uberlândia revela belezas de que até (e principalmente) os uberlandeses duvidam.

E foi numa dessas madrugadas em que passeava pelo bairro que me vi de repente adentrado no Bar do Seu Eurípedes – o Soripim, ali da Belarmino, antiga 4. Meu velho amigo, o professor Joel, com cabelo de pianista louco, dedilhava seu violão de 7 cordas, na companhia de um grupo de músicos inacreditáveis. Abri uma exceção ao meu regime de abstenção de álcool, pedi uma cerveja, estacionei ao lado do balcão, para ouvir o repertório do Joel e sua turma. Lados B de Noel Rosa, Nelson Cavaquinho. O melhor da nossa cultura brasileira sendo festejado ali, despretensiosamente, no bar do Soripim, no Santa Mônica.

Até que um evento colocou mais lenha na fogueira. Duas musas - já senhoras - triunfalmente, postam-se na porta do estabelecimento. Com toda elegância, pedem licença. O grupo de músicos festeja a chegada. Já a próxima canção conta com o solo vocal de uma das damas. Fascinação: “Os sonhos mais lindos/ Sonhei”. A parceira, como que embalada pelo espírito da música, baila de um lado para o outro do salão. De repente, solta a voz. A casa cai. Não pode haver canto mais bonito. Há regozijo na expressão dos outros cantores. Olho para um, olho para outro, percebo a grandeza do momento. Muita festa entre os olhares.

A porta do bar está semiaberta. É possível ver o frio lá fora, pelo timbre envernizado do incêndio das luzes de mercúrio. O Santa Mônica é um bairro que se consome num fogo delicado.

COLUNA MUSICAIS

GOMA

O Goma está localizado no centro da cidade de Uberlândia. O Goma está localizado, e isso é o mais importante. Uma idéia com lugar é sempre mais potente. E o Goma é forte pelo seu tanto de idéia e pelo seu tanto de lugar.

Como lugar, é aquilo que quem conhece, viu: uma loja (onde se expõem roupas, acessórios, peças de artesanato, discos, livros etc), o espaço do café, a galeria de arte e o espaço para shows. Como ideia, traduz uma visão de mundo que quer colocar em questão a velha lógica de circulação dos signos artísticos e culturais.
O fato de o Goma se localizar no centro da cidade se afigura como um emblema, um resultado feliz, da história recente da vida cultural em Uberlândia. As manifestações mais experimentais sempre foram relegadas à margem. Em termos de música pop, a “margem” mais efervescente, por anos e anos, foi a Universidade. Talvez tenha sido essa a configuração do universo pop-musical de Uberlândia, desde os anos noventa: no centro da cidade, as manifestações mais comerciais, fundadas na música cover e na técnica aprimorada dos músicos; na Universidade, as experimentações com a linguagem, as bandas mais malucas, ainda que sustentadas por músicos diletantes.

O Goma é emblema porque contribui para o embaralhamento dessa configuração. O Goma tira as coisas do lugar. Sacode. Favorece a proliferação das mensagens mais inventivas. Ao mesmo tempo em que finca, no centro de Uberlândia, uma bandeira assegurando território livre, espaço de experiência. Se o Goma assume papel fundamental na história da vida cultural de Uberlândia, sua atuação no cenário nacional não fica pra trás. O Coletivo Goma é um dos mais importantes na extensa rede do Circuito Fora do Eixo, movimento que conta hoje com mais de quarenta pontos consolidados em todo o país, e que vem assumindo cada vez mais o papel de protagonista na evidente renovação por que vem passando a música brasileira.

E vale aproveitar a deixa pra mandar um salve para o saudosíssimo Estação Cultura, laboratório de linguagem dos mais sofisticados, que segurou as pontas por muito tempo aqui em Uberlândia. Mas o Estação Cultura merece um capítulo à parte, nessa História de Quem Faz a Arte Acontecer em Uberlândia.

Publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia