são 22 horas desse dia 31. os anos dois mil são tão bonitos, quando visualizados - ou quando escritos. 2002 eu adorei. 2001 nem se fala: o kubrick ensinou a gente a gostar. 2004 não deixa de ser simpático. 2005, por que não? 2006, incrível. 2008, que perfeição. e agora, o mais bonito, posto que inédito. 2010.

2010 é o ano que separa os dois 00 dos anos dois mil. quanta coisa está por acontecer, além disso.

mas que é um tesão esse momento, issoé. essa iminência. os foguetes atormentando os cachorros e os tristes. eu, claro, sou mais um dentre os tristes. e dentre os cachorros também, não precisa lembrar. uau au.

perdi as contas dos reveiones que passei em casa, no sossego. o mais legal de todos foi quando a larissa tava grávida, e a gente quis passar a virada com a mãe dela. comi um tanto de empada, e veio vindo sono, e ela dizendo que sono é esse, complacente. acordei no ano seguinte, que já é ano passado, retrasado, sei lá. último reveion que passei acompanhado foi esse.

porque revlon eu sempre passo sozinho. mesmo quando no meio de todo mundo. reveillon é a experiência da simultaneidade. não consigo sair ileso disso. é uma experiência que, de tão fincada no tempo, acaba por borrar o espaço. zera a contagem regressiva, o brazil explode de alegria, e meu coração está em todo lugar. que fogos iluminam o olhar dos meus amigos, nesse super-agora que é a Virada?

são 22 e 15, estou pelado esperando o ano novo. ainda não sei pra onde vou. sei que vou de bicicleta, pro ano me surpreender de tênis e short. são as melhores noites, aquelas para as quais se lança sem muita expectativa.

contemos juntos essa regressiva, porque amo todo mundo.

e salve oxalá, regente de 2010. Aê Babá!


O LUGAR INEVITÁVEL


As águas escorregando pelo asfalto definem seus caminhos: é a enxurrada. Cai água do céu, e os guarda-chuvas, com sua beleza esplêndida, colorem a cidade cinza. Vez por outra, aparece um aventureiro. Sem a guarnição da lona do guarda-chuva, produz seu caminhar-quase-correndo, o corpo curvado, cabeça baixa, como se quisesse adiar, por meio meio-segundo, a molhança nos cabelos. E os joelhos sempre no alto, pisada mínima no chão, o esforço para tentar sair incólume do trânsito entre poças e enxurradas. Cabeça baixa, pés no alto, eis o homem natalino.

Se a benigna chuva restringe o trânsito por entre as ruas, o que se poderá dizer das duas datas do fim-de-ano? Como se postar, onde estacionar o corpo em cada um desses últimos dias? É quase uma imposição. Você tem que estar em algum lugar. E são tantas as notícias de fulano na Bahia, beltrano em Caldas Novas, que fica a impressão: estou sozinho nessa cidade chuvosa.

Mas o desafio ensina. Diante das duas datas mais opressivas do ano, diante da quase-obrigação de se estar em algum lugar, tomo a resolução: vou estar em lugar nenhum. Melhor: vou estar apenas onde estiver. Porque o lugar primeiro, o primeiro (e último) lugar, o lugar inevitável, é o dentro da gente. Liberdade Condicional, poema do Mário Quintana, deixa tudo mais claro.

Poderás ir até a esquina

Comprar cigarros e voltar

Ou mudar-te para a China

- Só não podes sair de onde tu estás


(publicado originalmente na coluna Musicais, do Jornal Correio, de Uberlândia)

até

amanheceu o dia aqui, luzes percorrendo as horizontais, porque ainda é cedo.

preparo o cesto de roupas sujas pra viajar. viajo com as roupas sujas. parto para o futuro com as roupas sujas.

dois anos atrás, véspera de ano novo, fiz o convite: conta comigo os últimos segundos desse ano que vai passando.

fizemos a contagem regressiva, contamos como pudemos os compassos iniciais do ano. a que número chegamos?

difícil contar comigo. mas a sua contagem segue firme. cheia de doçura, como uma canção.


dedicado à gabi


tour fora do eixo

aô, meu povo

tamo aqui mandando brasa na Tour Fora do Eixo. No momento, em Salvador. Hj é dia de folga. Até ontem, foram 7 shows. um por dia. uma beleza.

quem tá contando tudo é o twitter do porcas.

http://twitter.com/porcasapasseio


confiram. experimentar todas as possibilidades

Porcas no nordeste

Vai ter início amanhã a terceira etapa da turnê de lançamento de A passeio, segundo disco do Porcas Borboletas. A banda faz 10 shows em 12 dias de turnê. Segue, abaixo, a agenda completa. Quem estiver por perto, aparece, que vai ser bom.

08/12 (terça) - Tour Fora do Eixo - Hey Ho Rock Bar (Fortaleza/CE)

09/12 (quarta)- Tour Fora do Eixo - Sgt. Pepper (Natal/RN)

10/12 (quinta) - Palco Off Feira - Conexão Vivo (Recife/PE)

11/12 (sexta) - Tour Fora do Eixo - Espaço Mundo (João Pessoa/PB)

12/12 (sábado) - Festival Omelete Marginal - Part. Otto (Vitória/ES)

13/12 (domingo) - Tour Fora do Eixo - The Jungle (Maceió/AL)

14/12 (segunda) - Tour Fora do Eixo - Rua da Cultura (Aracaju/SE)

15/12 (terça) - Tour Fora do Eixo - Boomerangue (Salvador/BA)

18/12 (sexta) - Tour Fora do Eixo - Festival Pequi (Montes Claros/MG)

19/12 (sábado) - Tour Fora do Eixo - Goma (Uberlândia/MG)

Véspera do último jogo do campeonato. A esperança é a última que morre: VAI DAR GALO

vai dar galo

conforme a combinação dos resultados, e de uma ou outra resolução do STF, dá GALO

o resultado de ontem, de 0 a 3, foi até animador

um final de campeonato atleticano:

a charanga tocando já está chegando a hora de ir e 60 mil torcedores com as mãos pra cima, fazendo o xis de xateado com os dedos

valeu galô, tamo na torcida

super-heroi playboy no goiânia noise



quem fez essas imagens foi a ksnirbaks, menina pra lá de talentosa de goiânia. ó o blog dela:

Pense em mim

Muito tempo atrás, estávamos eu e alguns amigos comprando uma caixa de fósforos numa venda do bairro Santa Mônica. Alguém quis tomar um cafezinho. Puxamos as cadeiras.

Aí, bem baixinho, delicadamente, entrou um Leandro & Leonardo na vitrola. Pronto, o amigo do café reclamou. Que não se podia nem tomar um cafezinho em paz etc. Perguntei: quer paz maior que tomar um cafezinho num estabelecimento do interior do Brasil ouvindo “invés de você ficar pensando nele”? Tentei sugerir ao amigo que nem tudo, em matéria de música, girava em torno do gostar ou não gostar. Não é porque ele não escuta esse som em casa, no conforto do edredon, que necessariamente tenha que desgostar do momento em que a tal música pinte no ambiente.

É preciso respeitar o Supremo DJ – o acaso. Se o correr dos fatos jogou no ar os sons do disco do Leandro & Leonardo, quem é que vai reclamar? Entre ficar incomodado e se divertir, o melhor é se divertir. O João Paulo & Daniel que tocou na galinhada de paróquia em que almoçávamos, domingo passado, fez parte daquela cena. Ajudou na composição global do espaço. Além do que, salientou nosso delicioso provincianismo. Esbravejar, empurrar o prato de plástico pra frente, como se dissesse “ah, perdi o apetite”, parece mais uma atitude intolerante. Não há como viver a vida tentando se desviar do que nossos critérios decidiram condenar como “música ruim”.

Melhor seria amar essa suposta “música ruim”. Descobrir, no lixo, o luxo. Transformar o tabu em totem, o valor negativo em valor positivo. Essa operação – devorar o oposto, o diferente, o outro – coincide com os avanços mais interessantes da história da música, e das artes em geral. O ruído, por exemplo, sempre foi indesejável para a música erudita, pelo menos até o século dezenove. A desafinação, o som do arco batendo no violino, um grito na rua, tudo era a manifestação do feio, atentado contra a ordem divina da música em execução. Até que alguns malucos resolveram transformar o tabu (o ruído) em totem. Incorporaram o indesejável. São incontáveis os frutos dessa experiência, na música pop: a guitarra distorcida, música-ruído, é um exemplo.

Oswald de Andrade, nosso intelectual mais importante, e o mais maluco, está nessa. Sua antropofagia consiste basicamente na atitude de devorar o “inimigo”. Caetano Veloso e todos os outros tropicalistas estão com Oswald. E, o mais surpreendente, estão todos com Jesus Cristo. Uma tradução possível, ainda que desconhecida, para o original em hebraico para “ame o próximo como ama a si mesmo” seria: “ame o diferente como ama a si mesmo”.


Texto publicado essa semana na coluna Musicais, do Jornal Correio, de Uberlândia.