kind of blue


O fenómeno da luz elétrica ainda impressiona




A eletricidade revela a natureza íntima das coisas -

o som elétrico sendo, portanto, um som orgânico





Os acordes dos dois tecladistas de miles davis: eletrocuções regozijantes – as mãos nervosas aplicando através do teclado choques elétricos dotados de sabor





Que deus pousou no varal da guitarra? Porque agora o som está solto, portador de volts



Porcas no Multishow

opa, saiu esse video do porcas no programa experimente, no multishow

acho q é um dos melhores videos da banda

abra-te

COLUNA MUSICAIS

A TECNOLOGIA PERFEITA

A invenção mais importante do homem moderno é o aparelho de som. Em termos de tecnologia, nada está à altura. O aparelho de som é o espelho da alma do homem. Porque a música revela sempre uma intimidade. Não necessariamente a intimidade do compositor, ou do intérprete. Mas uma intimidade já difusa, não-situada. A intimidade do Homem. O aparelho de som permite acessar essas intimidades. A viagem musical é sempre uma viagem pra dentro.

E uma viagem pra fora também. Ouvir o canto do povo de cada lugar, de certa forma, transporta para o lugar desse povo que canta. É muito viajado, o homem que escuta música. O que é o acontecer de um lugar como o Peru? Um monte de coisa, tudo fundido. O relevo, os animais, o clima, as roupas, as fachadas dos edifícios... e a música! Não sendo possível, no momento, dar uma olhada no relevo, nos animais, no clima, nas roupas, nas fachadas dos edifícios do Peru, o que poderemos fazer? – Ouvir a música peruana.

São os benefícios do aparelho de som. Porque os milagres são infinitos. O aparelho de som permite não apenas as viagens no espaço, mas também uma viagem no tempo. O aparelho de som permite ouvirmos a voz (penetrar na intimidade?) de uma pessoa que já passou dessa pra uma melhor. Carmen Miranda. John Lennon. Nelson Gonçalves. O aparelho de som revoga a morte. O aparelho de som permite a festa perfeita: todo mundo junto, os vivos e os mortos, os daqui e os de acolá. Os palestinos e os judeus. Os atleticanos e os cruzeirenses. É importante ou não é, uma tecnologia dessas?

O automóvel, por exemplo, não chega aos pés do aparelho de som. O automóvel está mais é poluindo a cidade, deixando o trânsito desagradável. Não é à toa que essa coluna defende abertamente: estamos do lado do aparelho de som. Porque o mais importante, no automóvel, não é o motor. Nem os pneus. Nem os assentos. Nem o seguro. Nem a prestação. Nem o porta-malas. Um carro não precisa de nada disso. O que um carro precisa, precisa mesmo, mais que pneu, mais que motor, é de um aparelho de som.

E fica aquele abraço pra todo mundo que tem som no carro e é capaz de fazer um uso não-poluente da tecnologia. Porque som automotivo alto, berrando pelas ruas seus jingles políticos, promoções de lojinha ou tumtumtum de balada ruim, é o lado negativo dessa força.


publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia


COLUNA MUSICAIS

RIQUEZAS SÃO DIFERENÇAS

Não sei bem onde, mas vi alguém dizendo: que se o pensamento ateu e materialista praticado na Europa, ali pelo século 19 quase 20, desembarcasse implacável na África, levando todo mundo a não mais acreditar em seus deuses, o prejuízo era certo – adeus tantas danças, músicas, adereços, rituais. Naquele contexto africano, na dúvida entre os deuses existirem ou não, muito melhor ficarmos com deuses-existindo: louvar seus deuses torna o homem mais divino.

Pois vocês vejam a beleza da Ave-Maria, de Schubert. Vejam o transe das velhinhas rezando terço, à luz das velas. Vejam os templos todos, espalhados pelo mundo. Os sinos. As mantas, túnicas, turbantes. Os incensos. Os cantos, os tambores. As posturas, as danças. O símbolos. Com os olhos voltados para o ceu, para o além, para a transcendência, o Homem acaba por dotar o arredor da beleza divina. Louvando o além, o ali, o homem embeleza o aqui. Não pode haver maior coerência.

Cada cultura, cada povo, cada família, escolhe livremente o modo de realizar suas louvações. Isso é, inclusive, um direito garantido pela Constituição. Mais inteligente será a pessoa desprendida o bastante para apreciar as manifestações culturais das várias religiões. Eis aí um dado, antes de tudo, cultural. Um dado artístico, antropológico. Eis o homem.

Eu mesmo, sempre gostei de religião. Fui coroinha, rezava o terço, amava os vitrais da igreja. Depois mergulhei no Rock, me identifiquei com suas celebrações. Até que um fato revolucionou tudo: vim a conhecer a Tenda Coração de Jesus, em Uberlândia. Terreiro de umbanda dirigido por Mãe Irene de Nanã, fundado há mais de sessenta anos, pelo Pai João da Bahia. Fiquei completamente arrebatado por aquelas belezas todas: tanta gente dançando, fumaça de ervas santas no ar, os ritos, a espiritualidade manifestada. A amizade. Afirmo sempre: nunca, em tanto tempo de andanças, vi tamanho amor e beleza, como vejo toda quarta-feira na Tenda Coração de Jesus.

E o que se passa é que, a despeito das garantias constitucionais, a Tenda (e a irmandade umbandista, como um todo) vem enfrentando cada vez mais dificuldades, na realização de suas celebrações. A intolerância religiosa ainda é uma realidade. Mesmo em Uberlândia, essa Salvador, com suas mil belezas afrobrasileiras. Devemos ser cuidadosos. Não pode haver prejuízo maior que o sacrifício das belezas transcendentais. E é sempre bom lembrar os Titãs, quando cantam: “riquezas são diferenças”.


publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia

diante do mistério da vida

mas com a sensação de estar prestes a desvendá-lo

ou, pelo menos, com a sensação de ser possível desvendar alguma coisa.

(algum dos fernando pessoa diria q não há mistério algum

timbrado assim, o mundo acabou foi mais misterioso ainda)

ê ê.