tenda coração de jesus

sempre gostei de religião. gostar de religião, hj, pode soar meio ingênuo, dado o aparecimento dessas tantas religiões picaretas por aí afora. pode soar ingênuo tb qdo se está sob influência desse pensamento racional dito materialista, coisa de universitário. incrusive acho legítimo negar um certo deus - o deus pai vigiliante, punitivo, por ex., ou um certo cristianismo (o cristianismo é culposo, fundado na culpa individualista. mas não vejo cristo assim. cristo, ao meu ver, não é cristão, nesse sentido. cristo é um cara muito doido, né só cabelim não). diz um cara aí, não sei quem, que se o pensamento materialista e ateu da europa aportasse com força na áfrica, levando todo mundo a não acreditar mais em deuses, o prejuízo era certo: baubau tantas danças, rituais, músicas. na dúvida entre deus existir ou não, fiquemos com deus-existindo: vale a pena, tentar louvar seus deuses torna o homem mais divino.

então sempre curti isso, desde os tempos em que era coroinha, em três marias. gostava dos incensos, da música, do sino, da mitologia bíblica. do terço modal das velhinhas. dos vitrais. do gestual. gostava da expressão contrita das pessoas. gostava do estar-junto que eram as festas. gostava de me comungar, achava perfeito isso de celebrar a fusão de corpos através do comer na mesma mesa.

até que virei um cara muito doido, experimentei a contracultura, mandei a igreja católica plantar batata. não deixei de curtir uma ou outra festa junina, um ou outro terço, mas missa frequente, dizer-me católico, não mais.

e assim fiquei, mergulhando em outras divindades, sem a mediação institucional.

até que o destino me levou a conhecer a tenda coração de jesus. era o dia 24 de junho de 2005, três anos atrás. festa de xangô, de são joão, do pai joão da bahia - chefe espiritual da casa -, e aniversário do terreiro. fui completamente arrebatado por tudo aquilo. tanta gente dançando, fumaça de ervas santas no ar, pemba, batuque. os pretos velhos na terra. xangô na terra. de lá pra cá, nunca mais me ausentei da casa. todas as quartas feiras q posso, estou lá.

porque vi no terreiro o espaço da transcendência total. transcende-se o espaço, com a presença de entidades de sei-lá-que-espaço. o espaço, aqui, não conta tanto. transcende-se o tempo, porque ali estão os espíritos de sei-lá-que-tempo. transcende-se o sexo, com a incorporação de, por exemplo, uma preta velha em medium homem. ali é além.

sem contar na sabedoria das pessoas. dona marlene de xangô, minha madrinha pra se orgulhar sempre, me dizendo que os orixás são a natureza, e que a gente canta e dança pra eles pra saudar e estar junto da natureza. ou o pai marcelo, dizendo que gosta de passar em vigília da quinta-feira pra sexta-feira santa porque, à meia noite, juntam-se os tempos da quinta com os tempos da sexta, numa - olha q poesia a do pai marcelo - "pororoca incrível".

impossível reproduzir as maravilhas q encontrei lá. possível dizer q encontrei amizades profundas.

e encontro agora a ocasião que sempre esperei, a de escrever sobre nossa ialorixá, tb minha madrinha, mãe irene de nanã. ela que recebeu, no último dia 24, a comenda pelos 14 anos à frente do terreiro. q inveja sempre senti pelo dorival caymmy, q cantou tão bem sua menininha de gantois. mãe irene merece um canto assim. nem tanto pela sua inegável força espiritual - todo mundo conhece algum episódio q sinalize para sua força - qto pela maneira com que se posta nesse mundo. adoro observar sua progressão fisionômica ao longo dos trabalhos. gosto de ver a presença de deus no semblante dela, a embriaguez de bondade e prazer estampada no rosto depois dos rituais todos. deus na terra. do lado de cá, no espaço reservado à assistência, contemplo, ao lado de tantos fãs dela, seu ir e vir elegante. e percebo que, em sua presença, pude sentir com clareza um sentimento já esquecido, mesmo q ainda muito vivo: o prazer de estar - felizão - do lado da mãe nossa.




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ai ai. 4 e meia. espreguiço-me austero? bichos escrotos saíram dos esgotos.

duas maneiras de pintar uma tela, escrever um texto. de dentro ou de fora. de dentro é ir indo, depois vejo qual foi. de fora é ir retocando, ajustando no cofiar da barbicha, depois eu entro.

mergulhar nas palavras porque elas mergulharam em mim, no sempre pretérito.

o sempre pretérito é aquele tempo, esse tempo, temporal de chuva, temporão de chivas, temporao.

o texto acham q corre pelas mãos de quem escreve, o texto acho q corre por si. mistério do texto é esse, correr por si pela mão de quem.

eu que agora escrevo sei que não posso tudo. posso tudo nesse não poder tudo. posso não posso? sexo o que é? poder tudo no caber restrito do corpo. quem já vôou abraçado? colocou uma menina inteira dentro da boca?

nos tempos primitivos infantis da minha vida escolar, havia os repetentes. o estigma do repetente. o repetente era sempre o pobre, isso era. havia uma resignação no ser repetente, c é repetente? sou. c é mais burro que eu? sou. eu desconfiava que ele era mais burro porque era mais pobre, que pobre analista social eu era, mas pensava assim. q se eu fosse ele era repetente, q se ele fosse filho de funcionáril do banco do brasil não. as meninas repetentes davam. as que não não. se eu tivesse comido alguma menina na quinta série, ela seria repetente. essa poética tá me lembrando o wagner schwartz, que me ama profundamente quando não gosta das coisas q eu escrevou faço.

eu sou repetente hj. meu tesão é bertolucciano, bertolucci é o cara q fez o filme em que o marlon brando come friamente o cu da menina navegando na manteiga, que fez o filme em que a irmã esfrega a doçura do espanador na bunda do mano em penitência de punheta. bertolucci, o tesão a sangue frio. meu tesão é bertolucciano tb, porque não sou monogâmico no meu tesão. nelson rodrigues, marcelo rubens paiva, arrigo barnabé, xico sá.

o tesão é o exercício da sinceridade, como o tombo.

vc me chama para ir no cinema. a gente caminhando de mãos dadas pela vida inteira.

estou consciente dos podes e dos não podes, estremamente conciente.

quem participa da minha confraria sabe o qto é bom. tanto amor nas madrugadas. viver o que é? viver dá pra viver de duas maneiras. de dentro ou de fora, como se escrevesse ou pintasse. então viver de dentro e de fora.

porque vai chegar a hora em q nos libertaremos do olhar. aí é nem dentro nem fora. aí é esparso, tudo.

aí o que fica é o ridículo.

como é bom esse ridiculozinho nosso.




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coming back

Dois amigos de brasília mandaram recados q aqui reproduzo

um recado vai em discurso indireto: o gustavo lucas mandando eu abandonar o blog não, cara.

o outro vai por control c control v, por ter sido ele mesmo enviado através do copiar/ colar. recado postado há algumas dolorosas décadas pelo senhor oscar wilde, e que a dani quis chegasse até mim:

Os que não amam senão uma vez na vida são os verdadeiramente superficiais. O que eles chamam lealdade e fidelidade, eu chamo a letargia do costume ou a falta de imaginação. Há muitas coisas que abandonaríamos se não temêssemos que outros as apanhassem.

e

O único meio de livrar-se de uma tentação é ceder a ela. Se lhe resistirmos, as nossas almas ficarão doentes, desejando as coisas que se proibiram a si mesmas, e, além disso, sentirão desejo por aquilo que umas leis monstruosas fizeram monstruoso e ilegal.

dois (três) recados pra lá de estimulantes, vamo dar um jeito nessa bodega de blog aqui. soprar a poeira, jogar uns papéis (que sugestivo o duplo triplo sentido de "papéis") fora. está aqui um blog amigo do dizer, mesmo que calado. um blog amigo do amar, mesmo que insensível. um blog amigo das tentações dessa vida. um blog de cabelos molhados, suado, pelado e de pau duro.

(uma pausa para degustar isso: pau duro, pau duro, pau duro.)

sumido por que estava eu? caminhando por aí, sem internete em casa, se der vontade vou contando um pouco das minhas loucas aventuras, ao longo desses longos meses que ainda nos restam. por enqto, adianto que acabou de chegar meu atraso de vida, conecsão o que é?

qto a nós.

nós vamos à guerra com pé de pato, ou com roupinha ridícula de turista que o valha.

nós vamos à guerra de bermudinha da hering.

à praia, de a pé, soturno coturno punk.

espero que possamos sentar o pé e a mão.

manicure pedicure.

ademais, dá-lhe control c control v, dá-lhe itálico caps lock reticências e, sobretudo, interrogação e exclamação.


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um dois três passos atrás

eis q a vida se descortina

estar dentro é estar cego

cego estou dentro de mim

cego estás dentro de ti

consciência disso ameniza a cegueira?

calado estou menos errado

calados somos mais juntos

tudo é perdição quando há pronúncia

tanto q pronúncia proveitosa é o que pode haver de louvável nessa atividade humana

porque o terreno é perigoso

pessoa foi quem acertou: pensar é estar doente dos olhos

pensamento/ linguagem sob suspeita máxima

qta burrice estruturar uma vida sobre o terreno das assertivas

silêncio é paz, bla bla bla é guerra

faz silêncio, não faça a guerra

tanto que o amor

o amor é qdo a paixão vira silêncio

findepapo?


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