conta comigo

a contagem regressiva do reveillon pode ser lida como

a) os segundos faltando para o ano novo

b) os últimos segundos do ano q diz tchau

conta comigo os últimos segundos desse ano q vai ficar pra sempre.

longo alcance

isso me deixou assim. como se tivesse crescido. não em tamanho, nem em nobreza, mas em tempo. no momento estou ouvindo balão mágico, que eu colocou esse som? revisito as sensações da infância, que eu sou eu? dispondo de todas as minhas idades, sou grande, sou todo.

o contrário tb acontece. qdo a vida está sem sal, sou só momento. agora resolver isso. agora resolver aquilo. cabeça sempre baixa.

do jeito que estou, pareço uma locomotiva. repercussão até no gestual - mais grave, solene.

apesar da gravidade, a feliz constatação: meu eu menino vivendo esse hj é sinal de q a brincadeira por aqui está boa.

corte

entrou agora eu sei do legião urbana, vem de imediato a vivência do momento em que pela última vez tinha ouvido essa música, e vcs me permitam essa lembrança

eu com meus catorze agonizando muita saudade da menina da época, meu pai sem querer abre a porta e me vê estirado no quarto ouvindo esse som. ao que ele vê a marca do choro no meu rosto eu vejo a amargura do pai q vê o choro no rosto do filho. fechou a porta rápido, mas vi q foi com ele uma fisionomia de dor. onde foi parar essa fisionomia, meu pai? de vez em quando ela ainda visita seu rosto, não com a lembrança de fatos, mas com a certeza que o circo estará sempre pegando fogo para todos os meninos dispostos a vestir a vida inteira roupinha feita de material inflamável?

motivo nenhum para dor, cena bacana menino apaixonado arrastando a cara no chão, cena bonita o pai ganhando os corredores da casa querendo quem sabe ajudar mas absolutamente consciente que esse sentir é sozinho, e ser pai é saber se despedir.

dedicatória

sangrou

o sangue, texto de alguém disse isso dia desses, sempre foi um signo-tabu. valorização negativa. cruz credo.

rock n roll mudou tudo. o sangue passou a ser valorizado positivamente. sangue na guitarra. escorrendo da boca de ozzy osbourne. let it bleed, deixe sangrar.

sangra quem tem sangue.

enfraquecido de tanto sangrar, cinco dias sangrando, fica difícil se reencontrar. a gente está no sangue, se esvair é fatal. sangrar é estar no mundo, muito mais que estar em si.

quem poderá restituir-me a mim mesmo? dedico meu sangue a você, que talvez o possa.

questão de estilo

hora de decretar minha liberdade. parar de escrever pros meus inimigos. esse blog anda muito moralista, partidário, guerreiro. ignorar é um gesto de paz, bandeira branca mor.

pensando nisso, me veio o conselho do wagner, conselho q ele dá pra poucos, conforme me disse: kill your darlings.

não estendo esse conselho a âmbitos além da esfera da arte, eu que não mato nem minhas queridas galinhas (tenho 5, nome delas: ti neném). o wagner mesmo, qdo me disse o itálico acima, estava se referindo ao trabalho artístico. confesso que engoli, mas não digeri esse [sei que é] sábio conselho. por enquanto, na minha ignorância, entendo como o melhor assassinato: o suicídio. o suicídio artista, o suicídio artístico. morrer hoje para nascer amanhã. reset.

arnold schwarzenegger rodando a metralhadora 360 graus, com aquela cara de bosta - eis-me. o artista querendo matar e morrer, sabemos muito bem, apaga e acende, é máquina de renovação do mundo. nada será como dante.

sobre voar

o bachelard disse q é feliz quem sonha q avoa.
(q alegria a do superman voando junto com a louis lane)
sempre q durmo penso na cama como uma piscina onde nadar parado
sempre que nado percebo que nadar e voar é a mesma coisa: água sendo ar, fazer o que? - flutuar.
fantasia do superman jogada no chão, eu e você salvando o planeta, o livro do bachelard ocupando a beiradinha da cama

depois te conto o que é flutuar, vc que sempre soube, gaston bachelard

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carta a alfredo bello

titio bello, hj amanheci cansado da língua portuguesa, cansado da razão ocidental, cansado da moral católica. meu santo pedindo fissurado uma outra coisa. sonhei com um teatro abandonado e vazio pra poder rodopiar meu corpo, movimento de rotação, alongamentos musculares desenhando mandalas. sonhei com corrida de suor em trilha de mato. depois tive a revelação dos porquês. tô lendo um diário de viagem do poeta japonês matsuó bashô, quis porque quero visitar ruínas de castelos onde habitem deuses nipônicos. kurosawa tatuando minha retina.

via internet, satisfiz todos os meus santos, visitei todos os meus deuses, navegando e ouvindo as coisas do Mundo Melhor. grande abraço, com saudades e amor, do danilo.

hud´s on

prazer infinito, o hudson desembestou a postar e a postar e apostar. cliqueveja, tad mais.

soube pq ele me disse, sei pq senti, q ele está concebendo (palavra santa) sua performance para a festa do dia 14. o hudson matutando, manipulando seus signos.

isso é agora

tomando caracu na frente desse computador ouvindo as músicas q ouvia qdo tava com meus catorze e esse restinho de eucalipto no meu corpo pós-sauna sensação de plenitude felicidade é como se fosse um anjo dizendo assim meu filho c tá certo em cada um dos seus erros não é pra muita gente essa lembrança de caminhar rindo muito com o marcelo o moita e o hudson por patos de minas ou ter pique pra sair correndo por essa rua noturna com o peito cheio estufado orgulhoso de comportar na própria mix de sentimentos a onipresença e onipotência de um coração de mãe

dançando então agora com todas as minhas lembranças q viraram anjo

yoko ono

CLEANING PIECE

try to say nothing negative about anybody

a) for three days
b) for forty-five days
c) for three months

see what happens to your life.

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END PIECE

each planet has its own orbit agenda. think of people close to you as planets. sometimes it´s nice to just watch them orbit and shine

.....................................................................

yoko ono significa olho no olho em japonês. textos estes são dela, fiz questão de anotar, a clarah averbuck fez questão de tirar foto ilegal. o segurança chamou atenção, distúrbio delicado no centro cultural banco do brasil.

tinha um labirinto com paredes transparentes. caminhar ali dentro gerava uma ilusão de ótica q igualava, visualmente, o espaço livre e o espaço obstruído. parede e passagem, a mesma coisa. aí era o pessoal desconfiar da visão e estender a mão, render-se à certeza do tato, ficar com cara de ceguim. certeza alguma existe no labirinto de paredes transparentes, quem pode ter certezas depois da invenção do cinema? eu mesmo experimentei com a testa o q fosse NÃO ali dentro. acelerei o passo, favoreci a alucinação, quis alucinar, os meninos lá de fora (paredes transparentes) menino rindos. disse pra clarah assim: nossa, eu alucinei muito. ela disse qualé, c tá alucinando desde o anhangabaú. ah, mas o anhangabaú é um labirinto, sampa é um labirinto, o campo de futebol é um labirinto, a palma da minha mão, o filme o iluminado do kubrick, o labirinto é deus em sua onipresença.

no meio do labirinto tinha uma privada. tinha uma privada no meio do labirinto. no meio do labirinto tinha uma privada.

caminha cidadão, por entre as passagens-parede desse labirinto, e quando encontrares a privada arria a calça e caga tua bosta dignamente, ó bisneto da costela de adão e do pecado de eva.

via mais racional, deixa eu percorrer de novo esse caminho. c sai do ponto de partida e no meio do labirinto encontra a privada. o q fazer, se lhe apetecesse cagar? cagar. cagar. cagar. cagar, a extrema sinceridade. sentar a bunda na porcelana fria e cagar. fazer aquele sorriso de cagando.

yoko olha no olho.

tinha tb o trampo através do qual o john se ligou. quem é essa menina? isso o enim me explicou. olha. uma escada pra subir, uma lupa pra olhar, uma tela branca pra ser olhada, no meio dela, pequenininha, a palavra yes - próprio punho da autora - pra ser navegada.

tinha uma sala cheia de trabalhos de outros artistas. yoko fez convite aberto. mandem recipientes para água, e dediquem esse recipiente pra quem faz cagada (no pior sentido) ou cagada (no melhor sentido). cildo meireles mandou chumaço de algodão. uma mina lá mandou uma foto de represa atravessada por metal bem na parte do muro que retém a água. metal atravessa o muro, coisa bonita de ser ver. título desse trampo: let it flow, traduzido por liberação do fluxo. isso esclareceu demais. nossa cultura está fundada sobre o signo da represa, o signo do não, o signo da prisão do ventre.

yoko says yes.

let it be, let it flow.

quem tiver olhos, veja se vê.

excuse me

tô tomando cerveja em minha casa e ouvindo maurício pereira porra
aí quando bentinho achava que tava tudo tranquilo

o chão se abre

e ele vislumbra finalmente a galeria subterrânea dos segredos femininos



onde achava que tinha só chão raso e firme

encontra o mar de ressaca

nos olhos oblíquos

esquivos à captura

(dois pássaros negros)

de capitu



absolutamente inesquecíveis

até pra mim

que nunca os vi





(em parceria com hudson rabelo)

todas estão corretas

deitado sobre o chão, eu olhando céu, passa como dúvida:

a) cometa meteórico assombro de luz e força disfarçado de mosquitinho

b) mosquito mosquitinho disfarçado de cometa assombro de luz e força

onze horas da madrugada

- cidade estranha não tem norte
- às vezes tem
- tem pra você, que é mulher. mulher tem antena. homem não, homem tem escama.
- são paulo tem norte?
- são paulo não tem sul nem leste nem oeste. são paulo são quatro nortes.
- e o rio de janeiro?
- o rio de janeiro demanda uma rosa dos ventos em 3 dimensões. bússula que se preze desafina no rio de janeiro.
- os morros né?
- o funk

conceito de verdade

imagine um cara q
perdendo todo dia de manhã a memória
se apaixonasse todo fim de tarde pela mesma menina

uma banda que a cada ensaio esquecesse o som que sempre fizera
e se pusesse a fazer música livremente, deixando acontecerem as composições
o conjunto delas permitindo ver um involuntário estilo

esquecer é o princípio da liberdade

vinícius transpessoal

caminhando por ipanema, vejo passar a bicicleta, melhor, vejo surfar a bicicleta - o calçadão de ipanema é uma onda eternizada, onda plana e quieta, movimenta o que é arredor

à deriva, sem remar com os pedais, vai a menina absorvendo o mar com desesperado deslumbramento

desde quando a vejo? desde sempre a vejo

o acaso (a onda de cimento sobre a orla de ipanema) nos conduz ao arpoador

ocorre-me argumento para poema: que todas as paixões no rio devem começar com o som de grito e asas de gaivota levantando vôo

.....................................................

poeira de surfistas quase de pé sobre o oceano

vou escrever no papel e entregar pra essa menina devorando o mar:

q a tarde dedica a ela sua constelação de anjos surfistas

por embargo da timidez, dedico eu mesmo a ela o melhor que eu posso oferecer: a sinceridade dos meus movimentos de yoga picareta - sei que fico lindo quando faço uma yoga com sinceridade

no auge do transe, sinto que ela me sente. sinto que a tarde vai cair e ninguém nunca vai embora. nem eu nem ela nem os surfistas nem o mar.

eu vim embora.

os surfistas o mar e minha arquetípica garota de ipanema continuam lá.

idade não tem idade

idade é uma só a vida inteira.

eu mesmo tenho 9 anos desde que nasci.

idade não é questão de computação, nada a ver com tempo. quantos anos uma pessoa viveu não é idade, são apenas quantos anos uma pessoa viveu. quilômetros rodados.

eis q eis-nos a formulação definitiva:

idade é a volta que os anos dão em torno de um único número.

saindo de viagem

é hora de amarrar o tênis

da mesma forma que chegam as visitas para aniversário casamento formatura, recebo hj de manhã, dia de partir, minhas nobres visitas

gente da mais alta estirpe

gente trajando capa e tudo

menino com sorriso infinito no rosto e cabelo encaracolado

diligência de anjos exóticos

espontaneamente mantenho-me solene, choro fácil, frente a essas presenças - notáveis, notórias

ansiedade doce mas tão doce nem ansiedade sendo mais

15 horas de viagem para desembarcar no rio de janeiro

romântico, imagino-me perambulando sozinho pelo rio, mochila nas costas com material subversivo

quanto mais sozinho, mais acompanhado. os caminhos são imprevisíveis, e o caminhante varia com eles. portanto, antes de viajar, despeço-me, saudoso, de mim mesmo.

aroê!

amor é domingo

oi, e aí?

q tal

vamo descolar uma galinhada de paróquia pra gente ir e almoçar em pé? ficar sentindo a cosquinha do calor no prato de plástico fino

FESTIVAL DE SORVETE BENEFICENTE

tem um festival de sorvete aqui perto de casa hj

coco, chocolate, flocos, groselha, passas ao rum, pode chupar à vontade qtos sabores quiser. na sorveteria vc paga quase 1 e cinquenta a bola. 4 bolas já compensam o ingresso.

opção a gente tem.


(em parceria com a cássia nuvens)

você se foi

e meus discos ficaram todos banguelas - não, essa música não!



meu mapa, cheio de minas - porra, não posso ir nesse bar, cê não entende?



meu corpo, o meu corpo, só me lembra você.



vc é uma ausência q dá pra pegar com a mão

balada literária

não sei nem onde enfiar a cara, de tão feliz. o mundo deus uas voltas, e eis q estou aqui transando loucamente com a expectativa da balada literária.

primeiro porque a programação está de levantar defunto. http://www.baladaliteraria.org/

segundo porque vou lançar, lá, O Herói Hesitante, dia 16 de novembro, às 21h. Na mesma noite que o xico sá, arcebispo da minha paróquia dionisíaca, link inaugural da minha pasta de favoritos na internet, a bênção xico sá.

tudo por articulação da nossa embaixatriz clarah averbuck, movedora de ares e mares com seu talento assombroluminoso, abram alas q a clarah vai passar.

laondé: Mercearia São pedro. Rua Rodésia, 34 Vila Madalena - Tel. 11 3815-7200.

vivos ou - principalmente - mortos, estão todos convidados.

scrap under the rain

chovendo água í ?

de noite é bom todo mundo dormindo e a água em alto mar batendo uma na outra, água de cima caindo em água salgada.

paz pra mim é isso, chuva em alto mar, com ninguém vendo. tá certo q a gente tá vendo isso agora, mas devassar espaços sem tempo está garantido pelo código da criança e do adolescente, né verdade?

em sendo, tudo astral, beijo pra vcs.

em não sendo, tudo astral, beijo pra vcs.

thus spoken msn

daniloslau says:
as coisas q eu ouço eu acho q são minhas

em termos de prazer estético

produzir informação não é muito diferente de receber infomação

desde q se seja tocado por ela

então eu acho q o q eu tenho ouvido é o q eu tenho feito

fazer é até ruim

o bom é receber

agora o mais gostoso

é receber o q vc fez

pq dá uma satisfação

não sei se isso é vaidade

vai q seja

foda-se

as éticas todas nos confundiram demais

o vamos salvar o planeta

o vamos ganhar dinheiro

as éticas criaram um finalismo

isso para aquilo

q eu acho meio indesejável

o apenas ser

acho q o apenas ser já conduz a alguma coisa, involuntariamente

desde q eu te conheço

e lá se vão longos anos loucos

c sempre foi o mesmo cara

eu tb me sinto o mesmo

então presumo q não adianta muito traçar planos

o único plano: tentar ser quem a gente é

qdo eu digo q vc não mudou, penso no seu eu q eu acho o mais massa

aquilo q se manteve é o q eu acho o mais massa

tal

vendo a mim mesmo, tb

vejo q o q se manteve é o q é o mais sensato

portanto a meta é deixar falar, predominar, esse eu-rachante

mesmo q isso redunde em porra-louquice, ou caretice

pq é esse caminho q vai nos conduzir bem

na verdade, o problema não é definir o caminho, mas o caminhante

a pergunta não é: por onde seguir

a pergunta é: quem vai seguir?

falar é errar

errar, de equívoco
errar, de errância

a fofoca é anti-estética

a fofoca é um meio através do qual trafegam (traficam) algumas informações, sejam elas, por assim dizer, verdadeiras ou falsas. o q distingue uma fofoca de um outro comunicado qualquer é a intenção do emissor da mensagem (o fofoqueiro), o impacto dessa mensagem na vida pessoal do receptor (o ouvinte sensibilizado), e o fato de uma fofoca sempre se referir a um terceiro (o fofocado). o que já de antemão coloca em dúvida a boa-intenção do fofoqueiro é justamente a ênfase que este dá à sua boa intenção. ai amiga, é doloroso demais pra mim te dizer isso, mas amizade o que é, um tipo de cuidado né. alegando bons intuitos, o fofoqueiro sai pior ainda na foto. nunca convence. mas nessa altura do campeonato o ouvinte já está por demais sensibilizado, unhas na boca, essas outras coisas já não têm mais importância - o impacto da fofoca ofusca a má atriz que é a fofoqueira. nunca é demais esquecer a verdade daquela frase: a coisa mais insuportável para uma pessoa é o sucesso de seu melhor amigo. procede? procede. claro, pouca gente sabe que sente isso. ninguém sabe nada. uma boa dar uma lida em memórias do subterrâneo, do dostoiévski, ver se cria coragem de se olhar verdadeiramente. nada de leituras por enquanto, o fofoqueiro não lê. diz que lê, acha que lê, mas lê bosta nenhuma, porque pra ler não precisa tanto de ter olhos, precisa mais de coração. como se quererá demonstrar, a fofoca é anti-estética. para isso, retomar o ponto onde paramos, que insuportável o sucesso do melhor amigo. essa sacada conduz necessariamente à idéia de que muito poderia - inconscientemente - interessar a desgraça do melhor amigo. fofocar é... se comprazer com a desgraça alheia. quem vai negar? sendo essa a intenção do fofoqueiro, ela se contrapõe diametralmente à intenção do emissor da mensagem artística. não que o artista seja um bem-intencionado, a estética pode prescindir da ética, mas, por mais bem-elaborada, mais espirituosa, mais eficaz que seja uma fofoca, sempre lhe faltará um tchan, um pirlimpimpim, que lhe garanta um sabor de coisa elevada. a frase fofoqueira é uma carne de segunda, pelanca mal-passada em churrasco com nova schin. a oposição entre fofoca e arte também se comprova pelo quanto uma vida intensa, rica, consigo-bastante, pode levar uma pessoa ao desinteresse pela vida alheia, pelo que não lhe diga respeito. um cara que se curta, se ache gostoso, cheio de coisa pra ler, pra ver, ouvir, fazer; um cara cheio de bons amigos, de bons momentos, vai perder tempo fazendo circular informação dolorosa? vai forjar informação (qualquer informação é sempre forjada. a linguagem é um artifício, e nunca será exata) e exercê-la à boca pequena? vai não. a fofoca é anti-estética também porque o fofoqueiro é sempre um fraco, um cara que na falta da novela das 8 faz da vida dos outros um páginas da vida.
vem fácil na lembrança uma enxurrada de artistas que se posicionaram contra a fofoca. só na musca popular brasileira ó:
. o arnaldo antunes cantou eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante q fazem as pessoas falando cochichando ou reclamando... quem quiser papo comigo tem que calar a boca enqto eu fecho o bico, e estamos conversados.
. o itamar assumpção cantou a musca do geraldo filme: vai cuidar da sua vida/ diz o dito popular/ quem cuida da vida alheia/ da sua não pode cuidar
. o caetano cantou aquela do jorge ben: quem cochicha o rabo espicha. cantou tb aquela: todo mundo quer saber com quem você se deita/ nada pode prosperar
. o karnak: ngm quer te ver feliz/ todo mundo quer q vc quebre o nariz. a gente escuta (é) nosso coração.

não me lembro qual marco, sábio imperador romano, sugeriu o seguinte: que valia a pena, no agir, sempre imaginar que um cara muito foda, admirável do pé à cabeça, estivesse nos observando. próxima vez que a boquinha tender a ficar pequena, que tal lembrar desses caras aí em cima?

segunda pessoa

o wish you were here, do pink floyd, what about it?

conexão total entre o q canta a letra e o como se canta a letra

não pode haver maneira mais shine on you crazy diamond de dizer: shine on you crazy diamond. até eu, q sou mais bobo, atendia, se fosse pra mim o recado. o recado é pra mim.

how I wish you were here. porra, mãos juntas, mão no peito, how I wish, how I wish you were here. (pior de tudo é cantar isso pra quem está do seu lado)

welcome my son, welcome to the machine. sim. welcome demais aquilo. não um welcome às águas calientes de caldas novas. um welcome to the machine. a máquina está na voz, o pai está na voz, quanta coisa pode morar numa voz

dá uma chegada aqui, boy, fuma um cigarro, c vai viajar. dá pra ver o molejo. é: come in here, dear boy, have a cigar, you´re gonna go far, fly high.

aceitei o convite, dei uma bola no cigarro q eles me ofereciam, fui longe, viajei. um dos discos mais importantes da minha vida, ouvi de novo, depois de tanto tempo. disco inteiro cantado para uma segunda pessoa, tu, você. shine on you crazy diamond é pra quem?

Matuto

A arte rupestre é encontrada em rochas e cavernas praticamente do mundo todo, algumas com 42 mil anos de idade, o que sugere ser inerente à humanidade o desejo de expressão. Aqui é a minha caverna, aberta ao público, e as cifras em texto são o esboço de uma expressão rupestre contemporânea, pop, descompromissada e sem erudição. É alvo de flechas flamejantes, ou não, como diria caeta.

(retirado do blog MATUTO, do meu mais-que-broder Roberto Chaves)

deposto depois

tendo molestado uma coxinha na parada de Luz, e agonizado por horas e horas no gontijo errante por entre relâmpagos de um cerrado chuvoso: maligna coxinha.

o vazio q resta depois de um festival de rock, temperado pelas náuseas do salgadinho nunca digerido.

ao q digo ao hudson q a voz do caetano, só a voz do caetano pra me tirar desse vazio, por morar nela uma legião de deuses dourados, ele responde: sabia q o iggy pop adora caetano? e q ele costumava ouvir numa fita cassete os ogãs da bahia tocando seus tambores e cantando para ogum? sabia não, iggy. dá sua mão aqui, quero caminhar pela praia de mãos dadas com você, nós dois sem camisa, e em silêncio, nós dois filhos de ogum, nós dois cansados de guerra.

entre dias e noites

o dia veio raiando e eu correndo atrás da noite correndo atrás do japão, como se fosse o indiana jones esticando o braço pra pegar o chapéu q caiu do outro lado da porta que se fecha

consegui alcançá-la através de um sono mal dormido, desses de manhã

acordo, faço um checape, percebo q nada demais se apagou. ainda com algum domínio da língua portuguesa, o suficiente pra pedir um marmitex; todos os dentes na boca, fora os que eu nunca tive.

saudade

escrever é se submeter à alguma censura, sempre.

não há escrita livre. escrita livre é o caralho.

escrita livre, livre mesmo, só se for escrita pra si. o leitor é um censor involuntário, coitado. mas escrever pra si não chega nem à categoria de punheta. se chegasse, ótimo. escrever para si é enterrar osso.

qdo o censor está na outra ponta, lá na frente, leitor-sensor, tudo bem. foda é qdo o censor está do lado. eu mesmo detesto escrever com a porta aberta. ser surpreendido escrevendo pra mim é o mesmo q ser pego cagando.

curioso por saber o q se revelaria se eu aprofundasse a liberdade do meu hiato de escrever. deixa eu passar uma colher na peneira, ver o q ficou retido, o que não veio à luz. ah não. só passou papinha.

ensaio

dessa madrugada em absoluto silêncio posso antever a jambolada acontecendo, todas as pessoas indo em vindo, de lá pra cá, sorriso ou lágrimas, matar ou morrer

nessa madrugada sou um paranormal do fantástico abolindo o tempo

estou sozinho agora em frente ao palco da jambolada

silêncio no local vazio

um grilo lá fora dá testemunho da existência do bairro custódio pereira

o escuro no recinto ecoa meus passos de sapato toc toc

estarmos cada um na sua nessa madrugada pré-jambolada nos aproxima

qdo estivermos todos juntos, suor do seu corpo esquentando o meu, estaremos mais próximos ainda

ainda q, no escuro dentro de mim, ecoem os sapatinhos toc toc de quem caminha sempre sozinho, porque mochila só 10 % do meu peso corporal

boa noite

madrugada de insônia relativiza tudo. é sempre uma bad trip edificante. essa vida bronzeando a cara em tela de computador. todos os mitos: os hedonistas, os dionisíacos. a arte como redenção. o amor como redenção. a droga como redenção. madrugada coloca tudo sob suspeita. pensar é estar errado. as filosofias a tiracolo não servindo mais. cansado de pensar aprisionado pelas possibilidades da língua. cansado de estar sempre acompanhado. tudo é não em uma madrugada de insônia. insônia é a negação do direito à morte. por ter deixado de morrer, me vejo confinado nesse terreno obscuro q são as três horas da manhã. cansado de permanecer entre o céu e a terra, busco abrigo em alguma instalação do hélio oiticica. posso dormir aqui hoje? viver é um gesto contrário. viver é uma insônia desconfortável que a gente tenta contornar assistindo o discovery channel. do alto da minha madrugada insone, vejo os homens se debatendo como podem, rindo seus dentes, olhando seus olhares. pra onde olha o homem quando olha para longe? todos os objetos mudam de feição às três da manhã. o macaquinho de pelúcia tem um olhar melancólico, e me ignora solenemente. todo mundo dormindo, só eu e o cazuza e o macaquinho acordados. apagar a luz, desligar o discovery, parar de pensar, desocupar o espaço, ficar sozinho, ensaiar minha morte, única redenção.

segunda consideração intempestiva: nietzsche bate a mão na mesa e desce a ripa no conhecimento que não serve à vida. né utilitarismo não. conexão, só isso. ter sido tocado pelas coisas q leu. repercutir na vida o mundo dos signos. no mais, é gente enfurnada em biblioteca escrevendo pros ratos da gaveta.


impressionante um cara como o níti dizer com todas as palavras: q perda de tempo gastar uma manhã de sol radiante com a cara enfiada entre livros.


antes de aprender a ler em alemão, antes de ler os clássicos, aprender a ler a vida.


a b c d e f g h i j l m n o p q r s t u v w x y z

dia desses


show uberlândia praça ontem

linda foto a nossa na rua na praça nadando

quem alucinou viu uma fonte no centro, corpo de bombeiro empunhando mangueira grosso calibre camiseta molhada colada no peito não é à toa que iansã seja a deusa do corpo de bombeiros

iansã, deusa musa

água subindo caindo em cima de gente festiva

bom ver o jogo de luz do palco se refletir na boca engordurada do senhor comendo espetinho

bom achar q tinha pula pula onde crianças como água ganhando ares ganhando chão, mas na verdade não tendo nada de pulapula, confusão com outras praças outros tempos

sem imperativos de olha pra mim
ser feliz, comer espetinho onde reflitam azuis e rosa

quanta verdade há numa boca engordurada

boca das meninas engorduradas de vida, pra onde elas vão se foram virão? algum dia serei chão para seu contra-vôo?

no meu chão mora uma poça de água de chuva onde rosam azuis, é por lá que ganharemos o céu num salto contra-piso

linda foto a nossa na rua na praça nadando

as crianças todas de nossa convivência proferindo rock n rolls a plenos pulmões, o paulão filho da biba que tirou a camisa e fez com mãos e pés um groove imaginado de bateria

a filhinda da eliana que quis conhecer o camarim onde ricardinho fazia dominós com suquinho de caixinha, matéria para a sua série de videos: video-larica

pra amenizar a fumaça a gente dizendo ai ai desculpe o gelo seco

a daniela borela rindo com os porcas todos ao redor ela já meditando mil acordes chamando como pode seus deuses banhados a ouro

os deuses de ouro da daniela tomam de assalto o recinto ao som de vapor barato

eu achei q ia incorporar algum, incorporei

antes de tudo, porcas borboletas antropofagicamente devorando e rindo muito com a idéia: pelo jeito vai dar ninguém

lembrando do rangel, baixista do corações em fúria: eu quero é quem tá
ninguém, todo mundo, pula-pula, deuses de ouro: certeza de nada nessa vida


certeza só de mim mesmo, em mim mesmado, como uma praça

festa

festa popular, tambores, quem mais tava ali?
segurando como podia a emoção daquilo.
nisso, um amigo, não sei por que, coloca as mãos sobre meu ombro.
coisa de gente de religião?
mão no meu ombro, perco a capacidade de recolhimento. me curvo na hora, soluçando, choro de energia, como eles falam lá no terreiro.
homem mais forte do mundo na minha fragilidade, voz embargada pelo choro, chega amiga: q isso, danilim?
amigo meu qdo eu pego pra chorar não sabe onde colocar a cara.
mediunidade pra espírito, pra gente que já morreu, não sei nem por onde começar.
agora mediunidade pro que tá vivo, pulsando espalhado, vixe.

ninguém sabe nada

impressionante como as pessoas ainda confiam nas próprias opiniões. não, porque isso é assim e aquilo é assado. tudo bem, as pessoas precisam de fé pra viver. e constróem suas fezes justamente sobre a linguagem, o território do desentendimento. a mais b é igual a c ao quadrado.

muito me impressiona também a maneira como as pessoas conseguem sair ilesas a algumas coisas dos titãs. ou do caetano. ou do lennon. ou do arnaldo. ou de cristo. ou dos pretos velhos. esses caras estão aí, implodindo as convenções justamente com a matéria dessas convenções: a linguagem. efeito demolidor, com as próprias armas do inimigo. então o cara ouve o tomar-no-cu que é a parábola do apedrejamento e sai pra balada municiado com suas pedrinhas, nenhaí.

porque é quando nego começa a formular suas opiniões sobre a vida alheia, e faz com que essas opiniões repercutam no campo da ação - como diz o povo na roça, faz render (a fofoca), é que a coisa fica feia.

se as representações são sempre suspeitas, como permitir q formulações toscamente elaboradas incidam sobre a vida pessoal das pessoas?

pelo amor de deus, gente dos anos 80, q diz q arrepiou qdo os ainda punks titãs diziam "ngm sabe nada!", confiando no que produzem suas inteligências, em termos de formulação sobre a vida dos outros... quanta fé.

quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que temquem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que temquem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que temquem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem

TODOS os caras mais legais, os artistas que a gente gosta, se posicionaram contra a fofoca. Só pesquisar. Existem as coisas que lhe dizem respeito e as coisas que não lhe dizem respeito, meu filho. Aprende. Ouve seus artistas geniais q vc diz q adora. Ter eles entre suas comunidades no orkut não é justamente o que lhe torna uma pessoa tão inteligente?

Impossível não produzir representações, esse post é uma representação, fatalmente equivocado. Mas é um post equivocado pedindo licença: me deixe aqui com meus equívocos. se são equívocos, que sejam pelo menos inócuos. quantas vezes eu olhei pra sua vida? Com tantos mp3, tantos livros, tanta gente legal, eu vou olhar pra vc?

faz o mesmo, olha pra mim tb não.

estamos conversados?

Mané.

enra

amiga minha, negona incrível, aprendeu técnicas pra manter a ereção do marido coroa e as emprega vez por outra em rapazes da viril idade. nesse dia em especial, sai sozinha do quarto, arrumando o sutiã como se voltasse da guerra, com o sorriso nos lábios de quem acabou de exercer a eterna Mulher. ainda no quarto, desfalecido no ambiente cheirando a festa, resta o garoto. joelhos entre braços, bunda fria no piso vermelhão.

rede ou réde

ok computer

paranoid android

cai o acorde

alguma coisa menor

solto

viajar cansa voltar pra casa cansa mais
sou escravo do álcon
ele met pela net
"talvez eu me masturbe mais tarde", texto para espetáculo de dança contemporânea
comer chocolate piora
ouve um disco do lulu santos

Entrevista com Hudson Rabelo (parte 2)

DANISLAU: e como você superou o problema de se chamar "Hudson"? É verdade que você chegou a agredir verbalmente sua tia, em pleno natal, por ter sugerido um nome que, segundo você, seria mais apropriado a um funcionário público dos anos setenta, vestindo camisa de botão apertadinha com carteira de despachante guardada no bolso do peito?
HUDSON: se não me engano, nesse natal meus primos acabaram com meu humor, fazendo trocadilhos natalinos com a palavra "peru" e "chester" . De fato, a princípio, neguei meu nome. Era uma fase em que eu estava na procura de meu nome próprio. Aí, meio que por entraves burocráticos junto ao cartório de registro civil, me vi obrigado a apropriar-me de meu próprio nome. O correr dos anos sobre nossas cabeças, sabecomoé, tem o poder de pentear os cabelos. Me acostumei. A gente pega amor, né? Pelo menos não é Wendel. Nem Afrânio. Nem é nome composto. Quando fui mexer com banda, por insistência de nosso vocalista, usei o nome Hudson "The tiger" Rabelo. Depois mudei para Hudson "Mad Dog" Rabelo. Era sempre uma vergonha me apresentar. Dizer meu nome era quase um pedido de desculpas. Hoje não, oje eu chamo udson com muito orgulho.

perto

_ Eu sou baranga mas sei o q pode dar uma ice kiss. Sou da madruga mas gosto de ser bem tratada de manhã. Topo tudo mas tenho ponto fraco. Sorrio com amor, e tenho lágrimas para mais tarde. Uso short curtinho, mas não tenho menos segredos por isso. Sei quando fui amada, conheço a vergonha de quem me ama.
_ Vou tirar vc dessa vida. Em meia hora eu devolvo.
_ Diz que me diz que.
_ Digo o que olhos, porque boca língua.
_ Palavra de homem quanto mais mentirosa mais me molha por dentro.
_ Certeza que tenho são furos no barco voltando, mastigo chiclete assobio cagando e andando.
_ Seus olhos linguam-me, lingúla.
_ Desvia um pouco sua atenção. Pega carona com o que se dissolve quando se fecham os olhos.
_ Você disse q em meia hora devolvia.
_ Tira essa camiseta e escuta o que eu vou te falar.Você é melhor ouvinte quando está nua.
_ Me paga um picolé que eu faço o que você quiser.

a jente é junto

nossa fruta sazonal está que tac

working

planilhas excéis

documentos wordes

segredos eme esse enes

olhos que brilham na sombra

O q acontece na madrugada a boca da noite engole. Nunca será justo julgar eventos noturnos à luz do dia. É outra a ética - etiqueta sem adesivo. São outros sabores. O homem é dia e noite, e atravessar dormindo a noite jamais recalcará dionísio: o homem sonha. Portanto deixem dormir em paz aqueles que conseguem sonhar acordados.

bidê literário

saudade do papel
limpar meu cu astral
com folha de jornal

recado pra aninha

menos de um ano atrás eu disse que em menos de um ano eu ia olhar pra trás e me encontrar dizendo assim q em pouco menos de um ano eu ia conseguir olhar pra trás coisa de menos de um ano e me ver olhando pra trás porque não é assim tão difícil a gente se perder de vista então é como se fosse uma aeróbica conferir se está tudo legal com a gente lá na frente

segredos de calça jeans

ele ela dançando forró amigável,
já no refrão a harmonia é total
segundo minuto, ele se vê obrigado a dançar com dois: com a parceira e com seu pau já feito pedra
recua um pouco, tenta equacionar os espaços, mas o forró é intolerante e não permite maiores distâncias
ao que ele se vê obrigado a pedir desculpas
ela: desculpa por que?
ele, vingativo: porque meu pênis ereto está a roçar suas partes macias
se preocupe não, tem uma calça jeans entre nós
é por isso que meu pau tá duro
por que, se não houvesse jeans ele não estaria duro?
se não houvesse jeans ele estaria dentro.

verdade

eu não consigo sentir e ficar calado

alcansar com s.

a vida existe dentro de mim e

entrevista com hudson rabelo

DANISLAU: e como foi aquela história de vc sendo assaltado na madrugada hostil?
HUDSON: bem, o motorista do ônibus cochilou no volante, tive q recuar um ponto caminhando. Nessas, pintou um clima entre mim e o assaltante. Só eu e ele na rua. Ao que fui abordado, joguei meu walk-man de fita pra cima, pra dar um nó na sua mente entorpecida pelo crack. Saí correndo em ziguezague, proferindo (gritando mesmo) um misto de trechos do corão com algumas músicas do césar & paulino. Ele ficou com o walk-man, e eu com a vergonha de mim mesmo, por ter corrido sozinho por três quarteirões (o cara ficou parado no local, estudando o walk-man com a mesma cara q o macaco do 2001 ficou estudando o osso no clássico do kubrick).
DANISLAU: projetos?
HUDSON: estou preparando uma coletânea educativa - "Coleção Nuvem Negra- o Pior da MPB". Essa coletânea, sem muitos fins lucrativos, vai trazer uma apologia negativa do que rolou na MPB nas últimas entressafras. Temos que educar nossos novos ouvintes, e como diz a paula toller, dizer não é dizer sim. Estou definindo ainda o repertório, mas o disco deve começar com borbulhas de amor, do fagner. Deve ter também alguma coisa em falsete do oswaldo montenegro. Algum sambinha de teclado (yamaha) do ivan lins. Gonzaguinha ("a gente não tem cara de babaca"). João Bosco, Jorge Vercilo, Ana Carolina. Zé Ramalho, claro. Guilherme Arantes. Taiguara, Djavan... Pelo jeito vai ser um disco duplo.

(continua...)

trans-percepção

papai noel com os dedos lambuzados percorrendo-me por inteiro em busca de felicidade espiritual (a)palpável.


sou um astro do nordeste. como eu, só zé ramalho. como ele, sou um misto de mystico com nordestino. se bem q tá difícil manter a cara de mystico depois do tanto de farinha que eu cheirei.


papai noel ou coelhinho da páscoa, não me lembro bem. Só sei q arrebentei a cara dele, com aquele papo de ah sou chocólatra. Tava eu e minha ex-namorada, q inclusive terminou comigo (pra sumir pra sempre) nesse dia. Um cara fantasiado de zarolhinho da páscoa querendo introduzir o dedo achocolatado logo onde em mim? minha namorada falou q tinha nada a ver, como não teve nada a ver o dia em que ela matou minha dolinha dentro do banheiro com o cover do raul, pra sair com cara de como sou louca, falei pra ela.


chocolate meio amargo. com açúcar ou adoçante? não é possível q é nóia minha, mas tá todo mundo querendo comer meu cu? o cara me olha com cara de maroto no coletivo e diz bom dia, como quem dissesse: é hoje ou não é?
....
cheiro as costas da minha mão, adivinho percursos sombrios através desse corpo que deus-me deu. meus segredos estão todos ali, nas costas de minha mão. portanto devo me resguardar. da palma, forjo um escudo. vc também faz isso. estamos todos escondidos por trás de mãos e braços. para de noite dormimos em posição fetal.

pedra em pó

Eu coloquei em risco meu futuro em nome das promessas que você me fez naquela noite. Espelho espelho meu, existe alguém mais espelho do que eu?

Dessa vez é jogo limpo, pode confiar. Além do que, seu talento é evidente. Conheço seu jeito midas de ser: só tocar no que pode se transformar.

Falando nisso, fiquei muito chateada com aquela história que vc contou, morrendo de rir. A do garimpeiro capiau que achou um diamante e foi vender pro coronel, que ofereceu doze mil reais. O capiau, meio surdo de algum ouvido, entendeu dois mil reais. Recusou a proposta, coragem pra peitar: só vendo por três mil. Hoje brilha na mão de dona lourdinha o diamante.

O pessoal conta que o rapaz ficou muito ofendido com a circulação dessa história. Magoadíssimo com o coronel. Embora entendesse que, a ele, não fosse possível agir de outra forma. Bate peneira todo dia desde as 6 da manhã, alimentando a idéia de se vingar na próxima negociação, porque não foi pra ser bobo na vida que seu pai o criou com tanto carinho.

primavera nos dentes

a melhor fase da vida de um homem é qdo ele começa a bater punheta.

o eric, amigo nosso, organizava uma verdadeira excursão pessoal pro banheiro. fazia malinha, entrava com mochila pendurada nas costas, cheia de revista playboy. como se estivesse indo pra aula. até lanche tinha na mochila.

saía com a cara mais lavada, feliz da vida, sabedor do próprio corpo, pleno de futuro.

Um poema com meu nome

Meu nome de batismo é Danilo
Na rua, Cu-de-grilo
Hoje meu nome é Danislau

Meu nome completo é Danislau Também
Ninguém sabe meu nome verdadeiro
O que eu falar que é, é porque é
: Danislau Também

Quem eu falar que sou é por quem sou
Sou quem sôo
Não sou homem de bem
Sou criminoso, marginal, danislau
Danislau também

Não sou de roubar, nem de brigar na rua
Sou de fumar maconha
Sou homem de bem
Sou arrogante, irresponsável, vaidoso
vagabundo também

desenho

tá no herói hesitante esse poeminha antigo, dos q mais gosto, a despeito (e principalmente) do uso de um material verbal extremamente desgastado, como as palavras desejo, angústia e vazio.

operação

subtraio dessa angústia
o desejo
e o resultado é vazio

aí o giordany, num desses apelos-msn-ao-amigo-offliner, genialmente aplica a operação inversa, prova dos nove poética:

adiciono ao vazio
o desejo
e o resultado é angústia

nota 10!

já que é assim, que tal esse lema, palavra de poder, valha-nos:

qualquer coisa, multiplica por -1.

isso é o q podemos chamar: matemática aplicada.

a ciência pode realmente causar uma ilusão de poder em muitos casos proveitosa.
a linguagem também, por que não?

material escolar

com que prazer teria conseguido convencer a colega da quinta série a pressionar com o lápis o volume desejante sob minhas calças, com o argumento irrefutável de que lápis é lápis, mão mão, e que não haveria por que ela responder pelo que não fosse corpo seu...

porque sim, e sempre

avante!

gasolina no asfalto molhado é arco-íris pra quem tá com long neck na mão.

passa a noite em culto a dionísio, amanhece uma terra roxa na beira do rio nilo, de tão fértil. vai passear no shopping, comove-se com o esmero dos gerentes, dos garçons, dos seguranças. vê por trás do uniforme. percebe a faxineira: índia, lembra sua mãe.

existe mais filosofia do que coisas entre o céu e a terra, e o uso do cachimbo deixa a boca torta. convalesce do mal identificado pelo doutor fernando pessoa, a doença dos olhos, causada pelo vício de pensar. assim que estiver curado, pensa em passear no shopping, olhar vitrines, o é do sim, uai; flagrar o momento e suas representações.

anota insights para postar em blog. o último: de como se formam os espíritos. por "espíritos": fantasmas, entidades, etc. Algumas pessoas morrem e permanecem, não apenas como signo (uma coisa substituindo outra), não tanto como em carne e osso, mas como um meio termo, um modo de presença destituído de corpo mas constituinte de uma imagem de si na mente de outrem, a quase-substância. nisso se iguala à presença física, porque o visível, mesmo existindo por si, para quem vê existe enquanto percepção. considerado assim, um espírito existe, de fato, mas nunca por si, objetivamente. como se formam os espíritos? eles se formam na medida em que possam ser acessados, visitados, incorporados. whalt withman conversa com seu futuro leitor. o poeta japonês bashô, cujo nome-apelido significa bananeira, prenunciou que, nos tempos futuros, estaria presente quando alguém visse uma bananeira e se lembrasse dele.

a existência dos espíritos dá testemunho de outros tempos, vivenciados por todos, compreedidos por ninguém.

o poder de exu: matar o pássaro de ontem com a pedra que atira hoje.

programa livre dá um tempo volta já

te amo te atro

vi essa camiseta com uma menina no programa livre, os peitos dela ondulando a frase, expressividade nas alturas. Camiseta apertadinha pelos peitos tem tudo a ver com amor. isso pra não falar na palavra teatro quebrada ao meio, como se tivesse rompido com a ondulação que lhe dá base - that´s what teatro is all about. aliás, convém sempre observar o relevo invisível sobre o qual se assentam as frases, mesmo quando escritas sobre papel ou tela de computador.

não fique puto, vá à forra!

já essa frase, na peita de um rapaz, carecia sem dúvida de expressividade topográfica, mas valia a pena por sua exuberância (anti)ética. As frases não pedem sempre nosso concordar ou discordar, fazer juízo atrapalha, vamos tirar a camiseta? tá um calorão.

no stress

pérola da plurissignificação. uma mesma frase, com apenas duas palavras, trazendo dois sentidos completamente opostos.
no stress: no, em inglês, negando a existência do stress.
no stress: no, em português, afirmando a existência do stress.

longe desse blog sugerir o humor disso, que em portugês está o stress e que em inglês não.

mas o paulo miklos, que sempre pinta com umas camisetas geniais, foi fundo no que um anagrama pode dar, para se apresentar com os titãs com os seguintes dizeres sobre o peito:

on drugs

e essa, também com o miklos?

tolerância zero - ninguém presta

Nem eu, nem o miklos, nem o giulliani, nem o lula, nem o papa, nem você, nem o anthony garotinho, nem o collor, nem o jefferson, há nens.





ai ai

enfio os pés na areia do posto nove esbarro na bagana acendo ascendo passa uma menina com o balanço dos quadris regido pela areia em que caminha e pelo volume de suas carnes e quem sabe certamente pelas ondas do mar desse rio de janeiro que quanto mais folclórico menos decepciona

eternidades antecipadas

Minhoca já morta trafegando entre a fome suicida dos peixes do pesque-pague.
Languidez da menina abismada entre o sexo e o desmaio alcoólico.
Pescador na praia calculando os rios de vento através dos quais sobrevoar o mar com sua jangada de pau.

o sotaque tá no timbre

Tirou a palavra da minha boca quem ia falar.

Falo eu ou fala você?

O circuito da informação, dentro de mim, infelizmente tem mão única. Ou escrevo ou leio. É in ou out. No momento, estou in, yin. Lendo todas aquelas coisas - lispector, rosa, fonseca - que por algumas semanas me fazem calar a boca.

Às vezes o silêncio atravessa meses.

Seria o caso de ficar calado, frente a essas produções geniais?

Autor, um personagem do rubem fonseca, teria dado essa lição ao jovem escritor: "menino, escreva o SEU livro".

Ante essa lição, silenciar, acender a tela do computador, mandar brasa. o que restar de cinzas ao pó voltará.

blog em espiral

Este blog vai acumular tantos posts, mas tantos, q vai parecer a ficha policial do bandido da luz vermelha. Vai, como diz o wally, encher de brocas o muro do calendário. Chegado certo momento, os posts serão deletados, um a um, do último ao primeiro. Modo de se manter sempre atualizado.
_
Nesse caso, não há q se falar em blog em espiral, mas em blog circular, já que a volta do delete vai encontrar cada post no mesmo ponto, sem alteração em seu corpo. A volta da espiral não: ela volta, mas passa por outro lugar. É a mesma coisa, sendo outra.
_
Cada post, ou seja, cada ponto, será o mesmo, sem alteração em si. Mas muda tudo, porque muda a leitura.

o primeiro milagre

jesus cristo, exato nos seus 30 anos, participa festivo, sandálias à parte, do aniversário de um amigo. carisma de sempre, o olhar de sempre, tomado por cada um dos seus 15 tipos de saudável embriaguez, uma das quais sendo a do vinho, que já vai nas últimas - jesus é total. avisado da má notícia do fim do goró, consulta sua mãe, que responde com um não de cabeça. a pergunta silenciosa não dizendo respeito à grana, à contribuição na vaquinha, porque o que havia de tutu nas algibeiras dos presentes já tinha descido para a venda, disso todo mundo sabia. à sua doce mãe, jesus perguntava: "que tal lançar mão do meu talento secreto? a causa é boa..." ene á ó til, que em aramaico é outra coisa, sendo a mesma.

falou o instinto dionisíaco. contrariando a mãe e os preceitos, jesus opera, antes da hora prescrita, e motivado talvez pela sede - sede de vida, de vinho, de contato, de alegria, de festa! - seu primeiro milagre. isso, sobre a precipitação de jesus, está na história oficial, não é caô de blogue. tal gesto constitui-se como um dado fundamental para qualquer pensamento sobre a figura de jesus, mesmo que male porcamente tenha sido visitado pela historiografia oficial, temerosa pelo mau exemplo de um cristo jesus boêmio.

talvez com o muslabum de um ravengar, ou o abracadabra do mickey feiticeiro, jesus transforma a água em vinho. é claro que lhe era interessante causar algum frissom com seus talentos, o vigor de sua Mensagem dependia disso. mas é interessante pensar, antes de superpoderes naturais, em poderes supernaturais. a técnica sempre teve, aos olhares do leigo, cores de magia.

_ tem água aí, pelo menos?
_ temo sim.
_ uva?
_ na hora.
_ fermento de pó royal?
_ iés.
_ joga na mão.
_ pra que, rapaz, vai fazer lambança de novo?
_ aguarde e confie.

Muslabum!

_ que isso, bicho, o cara transformou água em vinho!
_ um brinde.
_ axé!

_quem é esse cara?
_não sei, mas é um gato.

ensaio

aproveitar o upgrade de sensibilidade proporcionado por essa gripe fedaputa pra ler algum conto do joão guimarães rosa

................................

em meio aos delírios febris me lembro daquela jornada

serra da canastra, eu e um amigo de a pé, acampados, modo de eu recuperar a insensibilidade: ferido, em-flor, pelo fim - do último relacionamento

no sertão, de a pé, nem zé bebelo: sucumbi, somático, desidratado

agonizando na barraca, pergunto ao giordany pelos perigos dessa garrafa de álcool perto da fogueira.

ao que ele responde, que isso meu filho, o álcool tá 20 metros adiante.

talento nato, captei os eflúvios distantes do volúvel líquido.

faro refinado de quem tá dodói.

nisso, intuí o valor do adoecer antes da morte. upgrade de sensibilidade para receber a visita fatal, vivenciá-la ao máximo.

donde os versos constantes no herói hesitante:

adoeço pra morrer
porque quero morrer
sent
indo

Star Putz e as naturezas proibidas

here I am (can I call it a place?), between video in and video out. between audio in and audio out. my blood is a signal flaw. my steps are frames. space is rolling. time is not here.

satélite sacy

saci só se vê
se solto no terreiro
e preso na peneira

satélite sacy
se preso no CD
tá solto no terreiro
a meia perna inteira

domingo de ramos

foi sincero o beijo de judas, isso ninguém tira da minha cabeça. bezerra da silva nos ensinou que há centenas de maneiras de se apontar alguém, um ó é aquele ali ó já resolvia o problema. jesus ter sido traído com um beijo é uma puta imagem, poeticamente, mas não convence, em termos de verossimilhança. dá pra sentir o cheiro de coisa escondida, de há-mais. desconfio que judas fosse um cara legal. o que atrapalha muito sua fama, penso, é esse sobrenome infeliz. iscariotes. eta nome feio! chamasse judas tadeu, como seu xará e colega, talvez a história tivesse sido menos cruel com sua figura. a melhor interpretação para o gesto fatal da suposta traição é a que aponta para o princípio da economia. coube a judas, muito a contragosto - isso consta na história oficial -, a tarefa de dedurar jesus a seus algozes. o filho do homem devia saber que a melhor maneira de potencializar sua mensagem era a martirização, donde seu bate-papo desesperado com deus na sesta da santa ceia (fidel castro continuou vivo, e o impacto de sua figura é mínimo, se comparado à do mártir che guevara). alguém teria que fazer o serviço sujo. jesus prenuncia/ confia essa missão ao iscariotes, que fica puto, mas aceita a missão e a má-fama dos trinta dinheiros. na hora agá, prevalece o princípio da economia: com um único gesto, o beijo, judas aponta jesus e diz a ele, de coração: "gosto de você pra caralho, bicho". até hoje ninguém entendeu a equação de judas, tão sofisticada por equilibrar no mesmo gesto duas ações aparentemente antagônicas. talvez resida aí antagonismo nenhum: o beijo de judas, meus amigos, foi coisa de entendidos, coisa deles, dos dois só. lavar a boca antes de falar de judas iscariotes.

translation

sorry - sorria
yesterday - isturdia.

mas o falso cognato mais bonito é o da bandeira de minas.

libertas quase sera tamen - liberta q [livre] serás também.

Star Putz

Pra lá do escuro do universo existe um deserto iluminado. Pra lá das luzes do alto deserto onde se encontra Star Putz é aonde ainda. Pra lá disso, não há que se falar mais em há-ondes. Nem há que se falar mais. Nem há que se falar. Nem há. Aném, esse o sonho de Star Putz: levar consigo desertos, à viagem. Sair dali, saindo de si. Como sai da fumaça a cinza, do fogo a fumaça, dos altos desertos o fogo. Todos os fogos a fuga. (continua)

nas cordas

Olha o cara era aquele mesmo. Tava com uma camisa escrito maguila. Aí foi fácil achar. Entrei na comunidade do maguila, ele tinha q ser um daqueles 53. Mandei uma mensagem pra cada um, spam de pornografia. Claro q tive q copiar colar uma bunda do google imagens na foto do meu profile. Vinte minutos depois recebo uma mensagem. Um cara dizendo q queria. Perguntei onde. Qualquer banheiro da universidade. Letras, podia ser. Cheguei primeiro, fiquei lendo aquelas mensagens de quero isso quero aquilo q tem lá (proto-spams pornográficos). Pra mim foi o fim, essa vida de detetive do rubem fonseca não dava mais. Quando desisti era tarde. Ele (ele, não o rubem fonseca) havia chegado para o encontro. Não, não era ele, era o professor de filosofia querendo dar uma mijada. Não, era ele mesmo! o professor de filosofia estava com uma camisa do maguila escondida por baixo da camisa de professor universitário, aquelas de botão. (continua).

arma zen

quem desdenha não quer comprar nada
porque já tem tudo.

quero grudar no seu corpo, videotatuagem

Mais um artifício, quanta falta de verdade, mas vamos lá, tudo pelo efeito: começo esse post me (te) perguntando por que não rola bacu, baculejo, geral, na entrada de cinema. Certamente eu teria feito essa piadinha enquanto estivesse na fila, iminência de entrar na sala para ver um bom filme, perguntando ao porteiro "vai rolar bacu?", só pra fazer uma graça pra menina que estivesse comigo. Isso se fosse do meu feitio ir ao cinema acompanhado. Nunca fui acompanhado ao cinema. Mesmo que fosse ao local com alguém, menino ou menina, cinema pra mim é igual sono: cada um por si. Balela imensa esse papo de vamos pegar um cineminha. Se o lance é curtir a companhia de alguém, namorar, prefiro um jantarzinho, um buteco, um passeio no parque. Dizem que os espanhóis não falam de outra coisa, à mesa, que não seja sobre a comida. Pra mim é mais ou menos isso, quanto ao cinema. Pão pão, beijo beijo. Filme não tem vocação pra pretexto. Depois a gente dá beijinho, bem, por enquanto deixa rolar o filme.
Baculejo eu gosto porque parte da idéia de que todo mundo seja bandido, até prova em contrário (bandidos: somos todos ou não é ninguém). O baculejo é democrático, nos irmana na condição de suspeitos. É bom para o espírito, se ver em situações depreciativas. (Dia desses mesmo, fiz um exercício nesse sentido. Estávamos eu e os meninos do Porcas Borboletas à espera da van que nos conduzisse à alguma puta que pariu. Vi 10 reais em cima da mesa. Esperei o momento em que o dono do dinheiro estivesse olhando para meus lados, e discretamente dei o bote nos 10 reais. Quis ser pego roubando. Foi edificante.) Gosto também de baculejos porque os associei a bons eventos, jogo de futebol, xou de roque, adrenalina. Tomar uma geral é sempre o prenúncio de fortes emoções. Vale lembrar, ainda, que o baculejo talvez seja o gesto mais sincero do Estado, do establishment, ou das forças detentoras de poder. Daí minha sugestão aos donos de sala de cinema: implementar o bom e velho bacu, para todos os menores de 60 anos, não a fim de manter a segurança do local – esse papo já encheu o saco – , mas para satisfação pessoal dos espectadores.
Porque filme no cinema é flaflu, pega pra capar, matar ou morrer. Nunca se sai ileso. Lágrimas, comigo, sempre. Não tanto pela história, pela catarse com as personagens, mas pelo meio, pelo suporte em si. Choro pelo cinema, antes de chorar pelo filme.
Agora o prazer de assistir a um filme a dois é indescritível. Duas pessoas no cinema são a representação exata do estar juntos nesse mundo, pensado sob a ótica do trinômio eu x o outro x a vida (a vida, claro, sendo o filme). Entre uma pessoa e a outra, o filme acontecendo, na condição de diálogo entre elas. Isso se torna claro com o exemplo do menino que vai com a menina ao cine e se vale da comoção gerada pela história para levar a cabo seus próprios interesses sexuais/ afetivos. Assim, duas pessoas, caladinhas lado a lado, conversam intensamente. O cinema talvez seja isso, o limite compartilhado.
A partir dessa idéia, imaginei a história de dois alguéns que não pudessem ser vistos juntos. A despeito dessa proibição, marcam um encontro no cinema. Quase-encontro, na verdade. Não podem ser vistos juntos. Senta-se ela aqui, na décima fileira, senta-se ele lá, na décima-quinta. Não dizem oi. Assistem à mesma película, na mesma sala, na mesma sessão. Não se encontram no espaço, encontram-se no filme. Trilha sonora, peripécias, paisagens, tudo diz respeito a eles, tudo os envolve sob o mesmo manto videotatuado. Estão juntos, afinal. Com o The And (essa grafia é do arnaldo antunes), cada qual toma seu caminho. Talvez não tenham cruzado um único olhar, mas a sensação é de terem passado um final de semana em lua-de-mel na ilha de fernando de noronha.

Jogo de luz

fogueira no deserto iluminando o rosto de dom juan.

paraíso por detrás da cachoeira.

lampião apagando a lamparina pra apertar maria bonita no capim do bom sertão.

cartão vermelho subindo pela mão do juiz.

a tarja preta do remédio do filho da patroa.

luz que se acende no flagrante do adultério.


and so it goes

são tomé viu
e continuou duvidando.

sempre nunca

Tá no orkut da Camila Saad, isso que é lindo:

Amanhã tudo pode acontecer
Inclusive nada


Faz lembrar a idéia daquele poema do Mário Quintana, a de que só exista um único sinônimo perfeito: entre tudo e nada.

Por analogia, podemos enfiar outro, entre nunca e sempre.

Na roça, soube disso isturdia, ainda há os antigos que dizem nunca, quando querem dizer agora.
_Vamos tomar banho de ribeirão?
_Nunca!
_Em qual você prefere?
_No do peixe.
Isso porque, os ex-seminaristas se lembrarão, nunc em latim significa agora. E o nunca atravessou os tempos e permaneceu com esse significado na roça. Aliás, atravessar os tempos: talento do nunca, e da roça.


taí essa tirinha linda do álvaro de sá. chamá-la, nesse blog, de "Vida", foice?

o porquê de tudo isso

blog é igual cu, todo mundo tem o seu. e quer mostrar.
meta: deixar falar da gente o deus cuja voz chegue direto ao deus dos outros.

Chamada a cobrar

Senhoras e senhores, recebam meu efusivo bom dia boat arde bom à noite. Deusa jude, porque acaba de estrear o blog do danislau. Um blog sem pornografia, com exceção daquela sempre pertinente a um blog de poesia marginal. Um blog sem vírgulas, como compete a um site de poesia concreta. (Vírgulas não cabem em um texto urgente). Um blog onde desaguar as (m)águas de uma madrugada-enxurrada, porque a tela é ao mesmo tempo oceano e estrela: joga na cara do poeta luz diversa da que ele julga emanar enquanto escreve. No que vem o sol, não há estrela que resista. Míngua a luz na cara fosforescente, desfaz-se o parêntese que é a noite, desfaz-se esse blog que também é parêntese.