deposto depois

tendo molestado uma coxinha na parada de Luz, e agonizado por horas e horas no gontijo errante por entre relâmpagos de um cerrado chuvoso: maligna coxinha.

o vazio q resta depois de um festival de rock, temperado pelas náuseas do salgadinho nunca digerido.

ao q digo ao hudson q a voz do caetano, só a voz do caetano pra me tirar desse vazio, por morar nela uma legião de deuses dourados, ele responde: sabia q o iggy pop adora caetano? e q ele costumava ouvir numa fita cassete os ogãs da bahia tocando seus tambores e cantando para ogum? sabia não, iggy. dá sua mão aqui, quero caminhar pela praia de mãos dadas com você, nós dois sem camisa, e em silêncio, nós dois filhos de ogum, nós dois cansados de guerra.

entre dias e noites

o dia veio raiando e eu correndo atrás da noite correndo atrás do japão, como se fosse o indiana jones esticando o braço pra pegar o chapéu q caiu do outro lado da porta que se fecha

consegui alcançá-la através de um sono mal dormido, desses de manhã

acordo, faço um checape, percebo q nada demais se apagou. ainda com algum domínio da língua portuguesa, o suficiente pra pedir um marmitex; todos os dentes na boca, fora os que eu nunca tive.

saudade

escrever é se submeter à alguma censura, sempre.

não há escrita livre. escrita livre é o caralho.

escrita livre, livre mesmo, só se for escrita pra si. o leitor é um censor involuntário, coitado. mas escrever pra si não chega nem à categoria de punheta. se chegasse, ótimo. escrever para si é enterrar osso.

qdo o censor está na outra ponta, lá na frente, leitor-sensor, tudo bem. foda é qdo o censor está do lado. eu mesmo detesto escrever com a porta aberta. ser surpreendido escrevendo pra mim é o mesmo q ser pego cagando.

curioso por saber o q se revelaria se eu aprofundasse a liberdade do meu hiato de escrever. deixa eu passar uma colher na peneira, ver o q ficou retido, o que não veio à luz. ah não. só passou papinha.

ensaio

dessa madrugada em absoluto silêncio posso antever a jambolada acontecendo, todas as pessoas indo em vindo, de lá pra cá, sorriso ou lágrimas, matar ou morrer

nessa madrugada sou um paranormal do fantástico abolindo o tempo

estou sozinho agora em frente ao palco da jambolada

silêncio no local vazio

um grilo lá fora dá testemunho da existência do bairro custódio pereira

o escuro no recinto ecoa meus passos de sapato toc toc

estarmos cada um na sua nessa madrugada pré-jambolada nos aproxima

qdo estivermos todos juntos, suor do seu corpo esquentando o meu, estaremos mais próximos ainda

ainda q, no escuro dentro de mim, ecoem os sapatinhos toc toc de quem caminha sempre sozinho, porque mochila só 10 % do meu peso corporal

boa noite

madrugada de insônia relativiza tudo. é sempre uma bad trip edificante. essa vida bronzeando a cara em tela de computador. todos os mitos: os hedonistas, os dionisíacos. a arte como redenção. o amor como redenção. a droga como redenção. madrugada coloca tudo sob suspeita. pensar é estar errado. as filosofias a tiracolo não servindo mais. cansado de pensar aprisionado pelas possibilidades da língua. cansado de estar sempre acompanhado. tudo é não em uma madrugada de insônia. insônia é a negação do direito à morte. por ter deixado de morrer, me vejo confinado nesse terreno obscuro q são as três horas da manhã. cansado de permanecer entre o céu e a terra, busco abrigo em alguma instalação do hélio oiticica. posso dormir aqui hoje? viver é um gesto contrário. viver é uma insônia desconfortável que a gente tenta contornar assistindo o discovery channel. do alto da minha madrugada insone, vejo os homens se debatendo como podem, rindo seus dentes, olhando seus olhares. pra onde olha o homem quando olha para longe? todos os objetos mudam de feição às três da manhã. o macaquinho de pelúcia tem um olhar melancólico, e me ignora solenemente. todo mundo dormindo, só eu e o cazuza e o macaquinho acordados. apagar a luz, desligar o discovery, parar de pensar, desocupar o espaço, ficar sozinho, ensaiar minha morte, única redenção.

segunda consideração intempestiva: nietzsche bate a mão na mesa e desce a ripa no conhecimento que não serve à vida. né utilitarismo não. conexão, só isso. ter sido tocado pelas coisas q leu. repercutir na vida o mundo dos signos. no mais, é gente enfurnada em biblioteca escrevendo pros ratos da gaveta.


impressionante um cara como o níti dizer com todas as palavras: q perda de tempo gastar uma manhã de sol radiante com a cara enfiada entre livros.


antes de aprender a ler em alemão, antes de ler os clássicos, aprender a ler a vida.


a b c d e f g h i j l m n o p q r s t u v w x y z

dia desses


show uberlândia praça ontem

linda foto a nossa na rua na praça nadando

quem alucinou viu uma fonte no centro, corpo de bombeiro empunhando mangueira grosso calibre camiseta molhada colada no peito não é à toa que iansã seja a deusa do corpo de bombeiros

iansã, deusa musa

água subindo caindo em cima de gente festiva

bom ver o jogo de luz do palco se refletir na boca engordurada do senhor comendo espetinho

bom achar q tinha pula pula onde crianças como água ganhando ares ganhando chão, mas na verdade não tendo nada de pulapula, confusão com outras praças outros tempos

sem imperativos de olha pra mim
ser feliz, comer espetinho onde reflitam azuis e rosa

quanta verdade há numa boca engordurada

boca das meninas engorduradas de vida, pra onde elas vão se foram virão? algum dia serei chão para seu contra-vôo?

no meu chão mora uma poça de água de chuva onde rosam azuis, é por lá que ganharemos o céu num salto contra-piso

linda foto a nossa na rua na praça nadando

as crianças todas de nossa convivência proferindo rock n rolls a plenos pulmões, o paulão filho da biba que tirou a camisa e fez com mãos e pés um groove imaginado de bateria

a filhinda da eliana que quis conhecer o camarim onde ricardinho fazia dominós com suquinho de caixinha, matéria para a sua série de videos: video-larica

pra amenizar a fumaça a gente dizendo ai ai desculpe o gelo seco

a daniela borela rindo com os porcas todos ao redor ela já meditando mil acordes chamando como pode seus deuses banhados a ouro

os deuses de ouro da daniela tomam de assalto o recinto ao som de vapor barato

eu achei q ia incorporar algum, incorporei

antes de tudo, porcas borboletas antropofagicamente devorando e rindo muito com a idéia: pelo jeito vai dar ninguém

lembrando do rangel, baixista do corações em fúria: eu quero é quem tá
ninguém, todo mundo, pula-pula, deuses de ouro: certeza de nada nessa vida


certeza só de mim mesmo, em mim mesmado, como uma praça

festa

festa popular, tambores, quem mais tava ali?
segurando como podia a emoção daquilo.
nisso, um amigo, não sei por que, coloca as mãos sobre meu ombro.
coisa de gente de religião?
mão no meu ombro, perco a capacidade de recolhimento. me curvo na hora, soluçando, choro de energia, como eles falam lá no terreiro.
homem mais forte do mundo na minha fragilidade, voz embargada pelo choro, chega amiga: q isso, danilim?
amigo meu qdo eu pego pra chorar não sabe onde colocar a cara.
mediunidade pra espírito, pra gente que já morreu, não sei nem por onde começar.
agora mediunidade pro que tá vivo, pulsando espalhado, vixe.

ninguém sabe nada

impressionante como as pessoas ainda confiam nas próprias opiniões. não, porque isso é assim e aquilo é assado. tudo bem, as pessoas precisam de fé pra viver. e constróem suas fezes justamente sobre a linguagem, o território do desentendimento. a mais b é igual a c ao quadrado.

muito me impressiona também a maneira como as pessoas conseguem sair ilesas a algumas coisas dos titãs. ou do caetano. ou do lennon. ou do arnaldo. ou de cristo. ou dos pretos velhos. esses caras estão aí, implodindo as convenções justamente com a matéria dessas convenções: a linguagem. efeito demolidor, com as próprias armas do inimigo. então o cara ouve o tomar-no-cu que é a parábola do apedrejamento e sai pra balada municiado com suas pedrinhas, nenhaí.

porque é quando nego começa a formular suas opiniões sobre a vida alheia, e faz com que essas opiniões repercutam no campo da ação - como diz o povo na roça, faz render (a fofoca), é que a coisa fica feia.

se as representações são sempre suspeitas, como permitir q formulações toscamente elaboradas incidam sobre a vida pessoal das pessoas?

pelo amor de deus, gente dos anos 80, q diz q arrepiou qdo os ainda punks titãs diziam "ngm sabe nada!", confiando no que produzem suas inteligências, em termos de formulação sobre a vida dos outros... quanta fé.

quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que temquem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que temquem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que temquem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem quem come prego sabe o cu que tem

TODOS os caras mais legais, os artistas que a gente gosta, se posicionaram contra a fofoca. Só pesquisar. Existem as coisas que lhe dizem respeito e as coisas que não lhe dizem respeito, meu filho. Aprende. Ouve seus artistas geniais q vc diz q adora. Ter eles entre suas comunidades no orkut não é justamente o que lhe torna uma pessoa tão inteligente?

Impossível não produzir representações, esse post é uma representação, fatalmente equivocado. Mas é um post equivocado pedindo licença: me deixe aqui com meus equívocos. se são equívocos, que sejam pelo menos inócuos. quantas vezes eu olhei pra sua vida? Com tantos mp3, tantos livros, tanta gente legal, eu vou olhar pra vc?

faz o mesmo, olha pra mim tb não.

estamos conversados?

Mané.