conta comigo

a contagem regressiva do reveillon pode ser lida como

a) os segundos faltando para o ano novo

b) os últimos segundos do ano q diz tchau

conta comigo os últimos segundos desse ano q vai ficar pra sempre.

longo alcance

isso me deixou assim. como se tivesse crescido. não em tamanho, nem em nobreza, mas em tempo. no momento estou ouvindo balão mágico, que eu colocou esse som? revisito as sensações da infância, que eu sou eu? dispondo de todas as minhas idades, sou grande, sou todo.

o contrário tb acontece. qdo a vida está sem sal, sou só momento. agora resolver isso. agora resolver aquilo. cabeça sempre baixa.

do jeito que estou, pareço uma locomotiva. repercussão até no gestual - mais grave, solene.

apesar da gravidade, a feliz constatação: meu eu menino vivendo esse hj é sinal de q a brincadeira por aqui está boa.

corte

entrou agora eu sei do legião urbana, vem de imediato a vivência do momento em que pela última vez tinha ouvido essa música, e vcs me permitam essa lembrança

eu com meus catorze agonizando muita saudade da menina da época, meu pai sem querer abre a porta e me vê estirado no quarto ouvindo esse som. ao que ele vê a marca do choro no meu rosto eu vejo a amargura do pai q vê o choro no rosto do filho. fechou a porta rápido, mas vi q foi com ele uma fisionomia de dor. onde foi parar essa fisionomia, meu pai? de vez em quando ela ainda visita seu rosto, não com a lembrança de fatos, mas com a certeza que o circo estará sempre pegando fogo para todos os meninos dispostos a vestir a vida inteira roupinha feita de material inflamável?

motivo nenhum para dor, cena bacana menino apaixonado arrastando a cara no chão, cena bonita o pai ganhando os corredores da casa querendo quem sabe ajudar mas absolutamente consciente que esse sentir é sozinho, e ser pai é saber se despedir.

dedicatória

sangrou

o sangue, texto de alguém disse isso dia desses, sempre foi um signo-tabu. valorização negativa. cruz credo.

rock n roll mudou tudo. o sangue passou a ser valorizado positivamente. sangue na guitarra. escorrendo da boca de ozzy osbourne. let it bleed, deixe sangrar.

sangra quem tem sangue.

enfraquecido de tanto sangrar, cinco dias sangrando, fica difícil se reencontrar. a gente está no sangue, se esvair é fatal. sangrar é estar no mundo, muito mais que estar em si.

quem poderá restituir-me a mim mesmo? dedico meu sangue a você, que talvez o possa.

questão de estilo

hora de decretar minha liberdade. parar de escrever pros meus inimigos. esse blog anda muito moralista, partidário, guerreiro. ignorar é um gesto de paz, bandeira branca mor.

pensando nisso, me veio o conselho do wagner, conselho q ele dá pra poucos, conforme me disse: kill your darlings.

não estendo esse conselho a âmbitos além da esfera da arte, eu que não mato nem minhas queridas galinhas (tenho 5, nome delas: ti neném). o wagner mesmo, qdo me disse o itálico acima, estava se referindo ao trabalho artístico. confesso que engoli, mas não digeri esse [sei que é] sábio conselho. por enquanto, na minha ignorância, entendo como o melhor assassinato: o suicídio. o suicídio artista, o suicídio artístico. morrer hoje para nascer amanhã. reset.

arnold schwarzenegger rodando a metralhadora 360 graus, com aquela cara de bosta - eis-me. o artista querendo matar e morrer, sabemos muito bem, apaga e acende, é máquina de renovação do mundo. nada será como dante.

sobre voar

o bachelard disse q é feliz quem sonha q avoa.
(q alegria a do superman voando junto com a louis lane)
sempre q durmo penso na cama como uma piscina onde nadar parado
sempre que nado percebo que nadar e voar é a mesma coisa: água sendo ar, fazer o que? - flutuar.
fantasia do superman jogada no chão, eu e você salvando o planeta, o livro do bachelard ocupando a beiradinha da cama

depois te conto o que é flutuar, vc que sempre soube, gaston bachelard

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logo logo existo

carta a alfredo bello

titio bello, hj amanheci cansado da língua portuguesa, cansado da razão ocidental, cansado da moral católica. meu santo pedindo fissurado uma outra coisa. sonhei com um teatro abandonado e vazio pra poder rodopiar meu corpo, movimento de rotação, alongamentos musculares desenhando mandalas. sonhei com corrida de suor em trilha de mato. depois tive a revelação dos porquês. tô lendo um diário de viagem do poeta japonês matsuó bashô, quis porque quero visitar ruínas de castelos onde habitem deuses nipônicos. kurosawa tatuando minha retina.

via internet, satisfiz todos os meus santos, visitei todos os meus deuses, navegando e ouvindo as coisas do Mundo Melhor. grande abraço, com saudades e amor, do danilo.

hud´s on

prazer infinito, o hudson desembestou a postar e a postar e apostar. cliqueveja, tad mais.

soube pq ele me disse, sei pq senti, q ele está concebendo (palavra santa) sua performance para a festa do dia 14. o hudson matutando, manipulando seus signos.

isso é agora

tomando caracu na frente desse computador ouvindo as músicas q ouvia qdo tava com meus catorze e esse restinho de eucalipto no meu corpo pós-sauna sensação de plenitude felicidade é como se fosse um anjo dizendo assim meu filho c tá certo em cada um dos seus erros não é pra muita gente essa lembrança de caminhar rindo muito com o marcelo o moita e o hudson por patos de minas ou ter pique pra sair correndo por essa rua noturna com o peito cheio estufado orgulhoso de comportar na própria mix de sentimentos a onipresença e onipotência de um coração de mãe

dançando então agora com todas as minhas lembranças q viraram anjo

yoko ono

CLEANING PIECE

try to say nothing negative about anybody

a) for three days
b) for forty-five days
c) for three months

see what happens to your life.

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END PIECE

each planet has its own orbit agenda. think of people close to you as planets. sometimes it´s nice to just watch them orbit and shine

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yoko ono significa olho no olho em japonês. textos estes são dela, fiz questão de anotar, a clarah averbuck fez questão de tirar foto ilegal. o segurança chamou atenção, distúrbio delicado no centro cultural banco do brasil.

tinha um labirinto com paredes transparentes. caminhar ali dentro gerava uma ilusão de ótica q igualava, visualmente, o espaço livre e o espaço obstruído. parede e passagem, a mesma coisa. aí era o pessoal desconfiar da visão e estender a mão, render-se à certeza do tato, ficar com cara de ceguim. certeza alguma existe no labirinto de paredes transparentes, quem pode ter certezas depois da invenção do cinema? eu mesmo experimentei com a testa o q fosse NÃO ali dentro. acelerei o passo, favoreci a alucinação, quis alucinar, os meninos lá de fora (paredes transparentes) menino rindos. disse pra clarah assim: nossa, eu alucinei muito. ela disse qualé, c tá alucinando desde o anhangabaú. ah, mas o anhangabaú é um labirinto, sampa é um labirinto, o campo de futebol é um labirinto, a palma da minha mão, o filme o iluminado do kubrick, o labirinto é deus em sua onipresença.

no meio do labirinto tinha uma privada. tinha uma privada no meio do labirinto. no meio do labirinto tinha uma privada.

caminha cidadão, por entre as passagens-parede desse labirinto, e quando encontrares a privada arria a calça e caga tua bosta dignamente, ó bisneto da costela de adão e do pecado de eva.

via mais racional, deixa eu percorrer de novo esse caminho. c sai do ponto de partida e no meio do labirinto encontra a privada. o q fazer, se lhe apetecesse cagar? cagar. cagar. cagar. cagar, a extrema sinceridade. sentar a bunda na porcelana fria e cagar. fazer aquele sorriso de cagando.

yoko olha no olho.

tinha tb o trampo através do qual o john se ligou. quem é essa menina? isso o enim me explicou. olha. uma escada pra subir, uma lupa pra olhar, uma tela branca pra ser olhada, no meio dela, pequenininha, a palavra yes - próprio punho da autora - pra ser navegada.

tinha uma sala cheia de trabalhos de outros artistas. yoko fez convite aberto. mandem recipientes para água, e dediquem esse recipiente pra quem faz cagada (no pior sentido) ou cagada (no melhor sentido). cildo meireles mandou chumaço de algodão. uma mina lá mandou uma foto de represa atravessada por metal bem na parte do muro que retém a água. metal atravessa o muro, coisa bonita de ser ver. título desse trampo: let it flow, traduzido por liberação do fluxo. isso esclareceu demais. nossa cultura está fundada sobre o signo da represa, o signo do não, o signo da prisão do ventre.

yoko says yes.

let it be, let it flow.

quem tiver olhos, veja se vê.

excuse me

tô tomando cerveja em minha casa e ouvindo maurício pereira porra