Mais um artifício, quanta falta de verdade, mas vamos lá, tudo pelo efeito: começo esse post me (te) perguntando por que não rola bacu, baculejo, geral, na entrada de cinema. Certamente eu teria feito essa piadinha enquanto estivesse na fila, iminência de entrar na sala para ver um bom filme, perguntando ao porteiro "vai rolar bacu?", só pra fazer uma graça pra menina que estivesse comigo. Isso se fosse do meu feitio ir ao cinema acompanhado. Nunca fui acompanhado ao cinema. Mesmo que fosse ao local com alguém, menino ou menina, cinema pra mim é igual sono: cada um por si. Balela imensa esse papo de vamos pegar um cineminha. Se o lance é curtir a companhia de alguém, namorar, prefiro um jantarzinho, um buteco, um passeio no parque. Dizem que os espanhóis não falam de outra coisa, à mesa, que não seja sobre a comida. Pra mim é mais ou menos isso, quanto ao cinema. Pão pão, beijo beijo. Filme não tem vocação pra pretexto. Depois a gente dá beijinho, bem, por enquanto deixa rolar o filme.
Baculejo eu gosto porque parte da idéia de que todo mundo seja bandido, até prova em contrário (bandidos: somos todos ou não é ninguém). O baculejo é democrático, nos irmana na condição de suspeitos. É bom para o espírito, se ver em situações depreciativas. (Dia desses mesmo, fiz um exercício nesse sentido. Estávamos eu e os meninos do Porcas Borboletas à espera da van que nos conduzisse à alguma puta que pariu. Vi 10 reais em cima da mesa. Esperei o momento em que o dono do dinheiro estivesse olhando para meus lados, e discretamente dei o bote nos 10 reais. Quis ser pego roubando. Foi edificante.) Gosto também de baculejos porque os associei a bons eventos, jogo de futebol, xou de roque, adrenalina. Tomar uma geral é sempre o prenúncio de fortes emoções. Vale lembrar, ainda, que o baculejo talvez seja o gesto mais sincero do Estado, do establishment, ou das forças detentoras de poder. Daí minha sugestão aos donos de sala de cinema: implementar o bom e velho bacu, para todos os menores de 60 anos, não a fim de manter a segurança do local – esse papo já encheu o saco – , mas para satisfação pessoal dos espectadores.
Porque filme no cinema é flaflu, pega pra capar, matar ou morrer. Nunca se sai ileso. Lágrimas, comigo, sempre. Não tanto pela história, pela catarse com as personagens, mas pelo meio, pelo suporte em si. Choro pelo cinema, antes de chorar pelo filme.
Agora o prazer de assistir a um filme a dois é indescritível. Duas pessoas no cinema são a representação exata do estar juntos nesse mundo, pensado sob a ótica do trinômio eu x o outro x a vida (a vida, claro, sendo o filme). Entre uma pessoa e a outra, o filme acontecendo, na condição de diálogo entre elas. Isso se torna claro com o exemplo do menino que vai com a menina ao cine e se vale da comoção gerada pela história para levar a cabo seus próprios interesses sexuais/ afetivos. Assim, duas pessoas, caladinhas lado a lado, conversam intensamente. O cinema talvez seja isso, o limite compartilhado.
A partir dessa idéia, imaginei a história de dois alguéns que não pudessem ser vistos juntos. A despeito dessa proibição, marcam um encontro no cinema. Quase-encontro, na verdade. Não podem ser vistos juntos. Senta-se ela aqui, na décima fileira, senta-se ele lá, na décima-quinta. Não dizem oi. Assistem à mesma película, na mesma sala, na mesma sessão. Não se encontram no espaço, encontram-se no filme. Trilha sonora, peripécias, paisagens, tudo diz respeito a eles, tudo os envolve sob o mesmo manto videotatuado. Estão juntos, afinal. Com o The And (essa grafia é do arnaldo antunes), cada qual toma seu caminho. Talvez não tenham cruzado um único olhar, mas a sensação é de terem passado um final de semana em lua-de-mel na ilha de fernando de noronha.
Baculejo eu gosto porque parte da idéia de que todo mundo seja bandido, até prova em contrário (bandidos: somos todos ou não é ninguém). O baculejo é democrático, nos irmana na condição de suspeitos. É bom para o espírito, se ver em situações depreciativas. (Dia desses mesmo, fiz um exercício nesse sentido. Estávamos eu e os meninos do Porcas Borboletas à espera da van que nos conduzisse à alguma puta que pariu. Vi 10 reais em cima da mesa. Esperei o momento em que o dono do dinheiro estivesse olhando para meus lados, e discretamente dei o bote nos 10 reais. Quis ser pego roubando. Foi edificante.) Gosto também de baculejos porque os associei a bons eventos, jogo de futebol, xou de roque, adrenalina. Tomar uma geral é sempre o prenúncio de fortes emoções. Vale lembrar, ainda, que o baculejo talvez seja o gesto mais sincero do Estado, do establishment, ou das forças detentoras de poder. Daí minha sugestão aos donos de sala de cinema: implementar o bom e velho bacu, para todos os menores de 60 anos, não a fim de manter a segurança do local – esse papo já encheu o saco – , mas para satisfação pessoal dos espectadores.
Porque filme no cinema é flaflu, pega pra capar, matar ou morrer. Nunca se sai ileso. Lágrimas, comigo, sempre. Não tanto pela história, pela catarse com as personagens, mas pelo meio, pelo suporte em si. Choro pelo cinema, antes de chorar pelo filme.
Agora o prazer de assistir a um filme a dois é indescritível. Duas pessoas no cinema são a representação exata do estar juntos nesse mundo, pensado sob a ótica do trinômio eu x o outro x a vida (a vida, claro, sendo o filme). Entre uma pessoa e a outra, o filme acontecendo, na condição de diálogo entre elas. Isso se torna claro com o exemplo do menino que vai com a menina ao cine e se vale da comoção gerada pela história para levar a cabo seus próprios interesses sexuais/ afetivos. Assim, duas pessoas, caladinhas lado a lado, conversam intensamente. O cinema talvez seja isso, o limite compartilhado.
A partir dessa idéia, imaginei a história de dois alguéns que não pudessem ser vistos juntos. A despeito dessa proibição, marcam um encontro no cinema. Quase-encontro, na verdade. Não podem ser vistos juntos. Senta-se ela aqui, na décima fileira, senta-se ele lá, na décima-quinta. Não dizem oi. Assistem à mesma película, na mesma sala, na mesma sessão. Não se encontram no espaço, encontram-se no filme. Trilha sonora, peripécias, paisagens, tudo diz respeito a eles, tudo os envolve sob o mesmo manto videotatuado. Estão juntos, afinal. Com o The And (essa grafia é do arnaldo antunes), cada qual toma seu caminho. Talvez não tenham cruzado um único olhar, mas a sensação é de terem passado um final de semana em lua-de-mel na ilha de fernando de noronha.
2 comentários:
Se tiver coisa em cima a casa cai.
Opçao contra baculejo no cinema é deixar a bagana no carro, nunca vi ninguem fumando ou cheirando em dentro de uma sala de cinema...outro aspecto de encontros em cinemas é que quando se marca encontros em cinemas quase sempre o que importa não é o filme. O encontro, o outro e o amor, ou suspeita dele, tornam-se mais importantes do que Felini, Godard e Kubric...Paixoes cinefilas nascem nao pelo filme e sim pelo escurinho confortavel e de de uma sala...
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