COLUNA MUSICAIS

RECEITA PRA FAZER SUCESSO

Pergunta inevitável, não são poucas as vezes que um músico escuta nessa vida: “ah, você tem banda? E já tá fazendo sucesso?” A resposta – a resposta mais comum – costuma ser recebida com um tom de desolação. “Não, não. Sucesso não”. Mas o papo não pode terminar assim tão triste. Porque sempre seguem os mil conselhos para uma carreira de sucesso: “mas vocês já tentaram o programa do Faustão? E o Raul Gil? Aquele quadro revela muita gente.”

Vigora, no imaginário popular, a ideia de que uma banda existe para fazer sucesso. Se não está na televisão, nos jornais, na boca do povo; se não é hit na internet, se não pode cobrar os cachês mais altos do mundo... não está valendo a pena. Uma banda longe do sucesso ainda está em sua pré-história. Vem de novo a voz do pitaco: “Já sei. Vocês precisam de um empresário.”

Essa mentalidade, claro, revela-se completamente vinculada ao século passado, aos tempos de império de uma indústria fonográfica regida pelas grandes corporações (as gravadoras). A internet criou outras possibilidades, possibilidades infinitas: através delas, podem ser projetadas as mais diversas vozes. Uma banda de Uberlândia pode criar uma página na rede, e fazer circular no mundo todo a informação artística que produz, sem dificuldade alguma.

Mas como levar as pessoas a clicarem na minha página? Aqui já cabe uma tentativa de reformulação do conceito “sucesso”. Talvez seja mais interessante, para as bandas, buscar menos o sucesso quantitativo, o sucesso entre as massas, para se voltar para a busca de um sucesso qualitativo: o sucesso no âmbito da arte que produz, e no âmbito das estratégias utilizadas para fazer com que essa arte circule.

Que sucesso interessa mais? O sucesso massivo de uma informação mal-sucedida, em termos artísticos, ou o menor sucesso de uma informação artística relevante? E não é motivo pra desânimo o tal “menor sucesso”. Muitas vezes, ele representa o sucesso absoluto. Pois qual é o máximo sucesso de uma informação artística? Tocar o interlocutor, repercutir positivamente em sua vida. Assim se completa o circuito da informação artística.

Pra terminar, uma última formulação: para quem busca uma comunicação efetiva, multiplicadora, artística, o sucesso (ou, pra usar a expressão em inglês, mais contemporânea, o “hype”) nunca é o fim, o primeiro e o último desejo. O sucesso é o meio. Através dele, mais pessoas poderão clicar na página da tal banda de Uberlândia. Uma vez clicada, é torcer para que a comunicação se estabeleça com sucesso.


publicado originalmente na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia

2 comentários:

ana reis disse...

excesso de sucesso, como diz meu pai, com a língua entre os dentes.

prefiro as míninas sensibilidades corporais à uma grande corporação.

Anônimo disse...

Adorei!!!!