o final de semana começou com um ensaião de horas e horas no estudio el rocha, pinheiros, são paulo
arrigo passou por lá. paulo barnabé também. karina buhr. bnegão. anelis assumpção. gravou-se uma entrevista pra tv globo sampa, essa rapaziada mais o porcas borboletas tocando, jam, algumas coisas do itamar assumpção. a timidez de cada um, cantando, tocando, olhadinhas voando como borboletas, instaurou infância geral - inocência. o círculo que se desenhou, gente nas extremidades, constituiu mandala permanente, valha-nos a memória dos momentos bons.
ensaiamos com o arrigo primeiro. nem uma foto fosforescente poderia transmitir a força do arrigo ao piano e vox. os personagens dele. as duas mãos trabalhando separada-juntamente, sete tempos e sete espaços mixados e masterizados na música única do arrigo. coisa de fã? o mais legal é ficar vendo a faceirice dele.
depois veio o paulo. igualmente faceiro, delicado. a potência da música e da poesia do paulo alimentaria uma araguari inteira, concorrência de itaipu, kilowatts kilohertz, zzzam. tocamos com o paulo o q a gente já vinha tocando, até que surgiu a ideia de tocar tô tenso, o paulo na bateria. quem estava no estúdio não pode se conter, alguma coisa estava por explodir. o vi, radiante, deve ter ficado com vontade de beber. o punk estava ali, inteligentíssimo como sempre.
bnegão chegou com seu vamo que vamo, nunca vi um cara tão bonito, dava pra tirar trezentas fotos dele bebendo água, que era só poster antológico. o arranjo veio que veio, o itamar compôs aquela música pro bnegão cantar, sem saber, sabendo.
pronto, a quinta-feira estava desenhada, com requintes de filme. alguém indicou, no bar, o luxo daquilo tudo. estava ali uma história da nossa música, derretam todas as estátuas, deixa o chumbo derretido, q é sempre uma imagem bonita. bnegão, arrigo e paulo barnabé. e o itamar assumpção. o caetano veloso e o jorge mautner a gente encontrou no domingo seguinte, conversando, embaixo do palco, embaixo da chuva, com o pedro sá, pouco antes da passagem de som da nina becker, na jambolada.
aquele hoje da sexta passada, dia seguinte ao dia dos ensaios, era dia de rock. o porcas cantando o segundo disco do itamar assumpção, no sesc pompéia.
passagem de som, camarim, banhozinho astral, frutas, tava tudo tranquilo. até que a serena assumpção apareceu.
deusíssima, aquele charme que só vendo, já chegou perguntando: cadê a cachaça que o moita ficou de me trazer.
moita saiu da sua moita pra dizer, sabecomoé, serena, ram-ram, é que a gente veio de avião, e líquido inflamável as aeromoças costumam barrar, mas mesmo assim eu trouxe, peraí q um minutinho eu pego.
aí saiu, e com a passada do macunaíma, buscou uma garrafa de boazinha lá no norte de minas.
não é que a serena quisesse beber. é que um trabalho precisava ser feito. lu de laurentiz, com a passada do macunaíma, veio ao sesc pompéia só pra esse trabalho.
aí estávamos nós ali, devotando nosso respeito ao grande zé pelintra, amigo do itamar. vibrando com ele, pra que tudo corresse bem. ascendeu um calor do chão, o baixo ficou alto, altar se elevou, que árvore invisível brotou ali? eu sei.
aí depois disso precisa nem contar. deixemos o testemunho do chumbo derretido.
é preciso dizer apenas que as maravilhas abundaram, nas duas noites iniciais do lançamento da caixa preta, discografia completa do itamar. os 4 shows foram muito intensos, rituais, cada um à sua maneira.
ao fim do show do porcas, descendo suadão do palco, do nada começou um ponto pra xangô, na minha cabeça. bem na hora que a serena apareceu. nem falei nada, fiquei foi cantarolando o ponto no pé-do-ouvido dela.
dia seguinte soube que o itamar, e o pai dele, eram filhos de xangô. não tive dúvidas: justiça foi feita, a vida e a obra do ita estavam muito satisfatoriamente celebradas. missão cumprida, zena. serena e anelis. já timbrou.
serena disse que foi por ter-nos ocorrido assim o ponto pra xangô, que ela me presenteou com a muiraquitã fundamental, a pedra mais importante da música brasileira. a pedra negra do ita. está aqui, na minha frente, nessa tarde. trabalhar para que seja uma bela tarde, essa a nossa - taí a lição da pedra.
domingo foi voltar pra uberlândia, rever os amigos todos incendiados pela jambolada-conexão vivo, gente do brazil inteiro. deus existe, deus tá vendo, mas faz vista grossa quando precisa.
porcas, paulo e arrigo no palco, os amigos em volta, com a boa-vontade de sempre. tava tudo ligado na tomada, e pelo jeito a turma fez jus à potência do milagre da eletricidade.
epa hey
sabemos o que é movimento.
deus tá vendo, faz vista grossa, a gente tá vendo ele, fazendo vista grossa, olharzinhos de borboleta.
valeu aí, broder. não posso te ver mas sinto que a vida pode ser boa. te vi?