boi boi boi

andei de lá pra cá, sequei ao sol meu cabelo molhado de chuva, dormi de meia pra não sentir frio na noite de colchão no chão, fui julgado e condenado pela paróquia de uberlândia, engoli secos de saudade do meu filho, gritei aos céus uns whata fucking is happening, dio como te amo, mil anéns, mil rararás. inscrevi 700 km uberlandenses em minhas pernas cansadas de guerra, ri junto depois de chorar um rio separados, vi comovido meu carrinho se despedir de mim enquanto tomava posição no carro de reboque, penteei meus cabelos com as noites e os dias passando inclementemente sobre minha cabeça para que o destino, esse deus louco que mora no correr dos fatos,

me conduzisse à cama vazia do meu pai.

madrugada altíssima, chegamos eu, meu carrinho, o motorista e o carro de reboque à rua altamir josé ferreira, em patos de minas.

humbertim e virgínia já tinham destinado as camas: a da sala para o motorista, a do meu pai - viajante pelos sertões do goyas - para mim

a alegria de me deitar na cama do meu pai, cama mesmo, elevada ao ar, me lembrou o que eu nunca vou esquecer:

uma vez q, em tres marias, nos primordiais anos 80, eu havia preparado um misto quente e um copo de coca para cada um de dois priminhos meus. eles moravam não sei ondé, e, pobrezinho que eram, mal conseguiram comer o rango, de tanto rir. ficaram chapadões pela alegria de tomarem coca, comerem misto.

riram com a boca aberta, riram um olhando pro outro, fizeram festa. eu achei, no momento, tudo tão deliciosamente piegas, tão engraçado, e ao mesmo tempo absolutamente comovente. eles estavam muito irmãos ali na alegria daquele misto. interessante o contraste: eles rindo de boca aberta na cozinha, eu soluçando com as mãos no joelho na despensa.

aí ontem, na cama do meu pai, eu fui meus primos. fiz cara de alex - do laranja mecanica - qdo é recebido na home, depois (e antes, coitado) de muito apanhar. espichei o corpo, me virei de lado gemendo um aiai. eu estava para dormir na cama do meu pai. depois de 25 anos?

melhor sono da vida.


...

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa cumplicidade de irmão... como negar? Você cresce, quem sabe se sinta adulto, altivo e poderoso, mas corre sempre o risco de, no auge da soberba, topar com o seu irmão, pra te lembrar, inclemente, só com a presença, que alguém conhece sua verdadeira identidade - a que ficava indizivelmente satisfeita em dividir uma coca de um litro, de vidro, com a família inteira,na macarronada com frango de domingo.