as novenas, o terço das velhinhas, a folia de santos reis, o tempo nublado, uma ou outra manga de chuva, a saudade do terreiro, vai fechando santo o ano que lá vai passando, abra-te devagar, caverna de 2011. q luzes penetram o ambiente ao que se abrem lentamente as portas? com que passadas penetrar o espaço desse quarto? com que voz, com que silêncio? passadas lentas em busca de uma cama no quarto virgem, boa noite queridos, durmam em paz.
a noite pode ser o remanso, a tranquilidade encoberta pelo manto videoguemático da noite sob lua, como pode ser também um cachorro bravo que de repente avança na gente, credo, mas um cachorro que avança por dentro, pq quem late é o dono atacado - os modos de acontecer da noite.
noite deixa ela sossegada no canto todo-lugar que é o abraço da noite
abraço-avanço, pex tt
pq depois de apanhar feio, vamos lambendo as feridas. e é hora de ouvir o lóki, do arnaldo baptista
um cara avançado
sim, é pelo viés da tristeza que estabelecemos o pacto com a alegria
do que resulta serem nossos sorrisos os sorrisos mais tristes do triângulo mineiro e alto paranaíba
último dia de aula
hj foi o último dia de aula na escolinha
a sirene, q é quase uma pessoa, soou uaum, e a água voou
balde de água, copo de água, balão cheio dágua, todo mundo ensopado
primeiro dia de aula eu quis falar pros meninos q nas coisas todas se podia notar uma hesitação entre caos e cosmos
e q a linguagem e o texto tb se situavam nessa corrente
o texto querendo ser cosmos, o espírito de quem escreve... (aquele) caos
e por isso eu fiquei conhecido como o professor do caos e do cosmos
apelido dos mais bonitos q já tive
aí hj foi água geral
pensei: olha como tudo acabou, por aqui. em carnaval
em caos
uma hora eu ia indo, juntaram uns cinco em torno de mim
armados até os dentes
com água
primeiro ataque demorou pq é professor
foram segundos de vamos ver
aí qdo eu despendurei a mochila, o aval tava meio dado
já. chuá. tibum. água na cara.
comemorei e foi: ah, eu tô maluco
Piranha. ou: Neukölln inn 2
paulo leminski não resistiu, wagner, e mandou essa
haja
hoje
para tanto
hontem
é porque hj vc estreia seu piranha, no itaú cultural
mais uma vez, você concedeu q eu participasse da história
o q é um luxo na minha vida.
(teve aquele dia em que a gente trabalhava sob os 11 graus geladíssimos da noite de são paulo)
lembrei desse poema porque hoje estará grávido de todos esses dias, meses, em q vc veio amadurecendo o piranha.
q luz o piranha dará à luz?
a imagem que eu guardo do espetáculo, ainda não acontecido fisicamente em sala de teatro, mas desenvolvido já, mapeado já - desenvolvido de que maneira? com que mapas? com que contornos? sobre qual tela? - mapeado, como ia dizendo, pelo seu trabalho na direção de tudo, é a de um grande branco que se diferencia e escurece mais aqui, menos ali, de forma a surgirem os desenhos todos - sim, é pela diferenciação do branco que você constrói esse piranha que imagino agora, wagner.
se deus criou o mundo a partir do escuro, piranha criou o mundo a partir do branco
soube que o isaac newton aplicou rotação à roda em forma de pizza, cada pedaço de pizza-à-moda-de-newton apresentando uma cor, e que a velocidade da rotação veio a somar, no conjunto retina-memória de quem via ou imaginava o experimento, as cores todas, e o resultado foi o branco.
o branco de newton é o resultado da pacificação do tudo-junto, acho mesmo possível que você tenha se valido dessa tinta pra desenhar o piranha
lembro sempre de seus primeiros trabalhos, a metáfora da colheita, o eperdu, e sinto-os nascidos do negro
o piranha sinto nascido do branco porque há em tudo uma clareza, o esplendor não da revelação, mas da pesquisa.
já sei: o outro-lugar para o qual o piranha me transporta está dentro de um cubo, paredes brancas em volta.
razão de tudo: as paredes estão brancas para q o pensamento, ao q se produza, se afigure com mais... clareza?
piranha focaliza o ainda não focalizado, o obscuro-íntimo: que tal a gente dar uma bisbilhotada no beijo (de língua) entre a percepção e a linguagem?
o dia é o de hoje, vai se deslocando esse super-agora como fosse prancha sobre onda do mar, e sei chegará o momento em que se fará a luz no itaú cultural
mas imaginar a maneira como tudo foi se desenhando, o processo, você rodopiando a pizza-à-moda-de-wagner para obter suas cores, igualmente me seduz
porque piranha é metapesquisa, pesquisa pensando pesquisa, os ontens todos contando muito nesse hoje, que é só o dia da explosão da luz
(que luz? que luz? vontade de estar aí)
Neukölln inn
Era uma vez um david bowie dilacerado pelas bads do vício da cocaína toda-hora
Apesar de trincado, conseguiu arrumar as malas e partiu pra berlim. Foi morar com iggy pop.
Cada qual em seu quarto, imagino que cheirasse a cigarro e maconha o apartamento deles. Piso de taco? Revistas no chão? Que música era?
Voz dos dois, certamente. A saudade da cocaína. Os discos em que vinham trabalhando. O toctoc de gente andando pela casa, na madrugada
.....
O apartamento do william burroughs ficava mas era em tanger, africa. Dava a impressão de estar sempre parado, estacionado sobre si, o apartamento - que era na verdade um quartinho de bordel. Próprio burrow, q é como carinhosamente o chamo, teria dito que ali eram horas e horas sentado na cadeira com os olhos fixos sobre o bico do sapato. Recorde mundial de olhos-fixos-no-sapato, quem somos nós, amantes do esporte? Burroughs menciona o número das 12 horas. O planeta está girando, amigos, mas o homem de terninho e chapeu, nosso personagem, está fora da dança. Burroughs está em outra, e sozinho. Perfume do apartamento dele, aqui na minha lembrança, era de cigarro, ópio, haxixe e outros fumáveis que essa criança aqui não veio a experimentar, pra dizer. Burrow devia passear sempre no fim de tarde, depois de acordar, e tanger se afigurava em polvorosa explosiva: gente pra tudo q é lado, pano estendido voando no vento, o timbre das vozes todas. Suor sobre a camisa de botão, burroughs devia gostar muito daquilo.
Teve o dia em q pintaram o allen ginsberg e o jack kerouac, e deve ter havido um momento inicial de silêncio. Os amigos recém-penetrados no quarto, três segundos de chapéu pousado na cama. O calor e o caos de tanger lá fora, silêncio calmo de monges lá dentro.
esse disco último do arnaldo eu ouvia numa fase em que parecia estarmos finalmente diante da paz eu gostava muito do perfume da madeira do piso daquela casa era bom ver como a bola rolava daqui pra lá e o filhote corria junto sorrindo com aquele jeitinho desengonçado q jeito desengonçado é o q desenha o charme das pessoas e teve um dia q passou um documentário tão bonito sobre o paralamas foi ali que eu vi q se trata de uma grande banda coisa q eu ainda não havia reparado a verdade é que eu sou o cara no quesito não-reparar-nas-belezas tantas como o perfume do taco daquele piso foi justamente sobre ele que eu desenhei a passada minha que nunca foi uma passada sorridente mas é atrás da bola q eu corro uma bola invisível e inalcançável mas foi por causa dela q eu teria dito pra quem estava comigo vou dar uma saída por que afinal tenho sempre q dar essa saída eu sinceramente não sei mas a bola deve ser a solidão extrema q um dia infelizmente alcanço, se já não alcancei
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