Piranha. ou: Neukölln inn 2

paulo leminski não resistiu, wagner, e mandou essa

haja
hoje
para tanto
hontem

é porque hj vc estreia seu piranha, no itaú cultural

mais uma vez, você concedeu q eu participasse da história

o q é um luxo na minha vida.

(teve aquele dia em que a gente trabalhava sob os 11 graus geladíssimos da noite de são paulo)

lembrei desse poema porque hoje estará grávido de todos esses dias, meses, em q vc veio amadurecendo o piranha.

q luz o piranha dará à luz?

a imagem que eu guardo do espetáculo, ainda não acontecido fisicamente em sala de teatro, mas desenvolvido já, mapeado já - desenvolvido de que maneira? com que mapas? com que contornos? sobre qual tela? - mapeado, como ia dizendo, pelo seu trabalho na direção de tudo, é a de um grande branco que se diferencia e escurece mais aqui, menos ali, de forma a surgirem os desenhos todos - sim, é pela diferenciação do branco que você constrói esse piranha que imagino agora, wagner.

se deus criou o mundo a partir do escuro, piranha criou o mundo a partir do branco

soube que o isaac newton aplicou rotação à roda em forma de pizza, cada pedaço de pizza-à-moda-de-newton apresentando uma cor, e que a velocidade da rotação veio a somar, no conjunto retina-memória de quem via ou imaginava o experimento, as cores todas, e o resultado foi o branco.

o branco de newton é o resultado da pacificação do tudo-junto, acho mesmo possível que você tenha se valido dessa tinta pra desenhar o piranha

lembro sempre de seus primeiros trabalhos, a metáfora da colheita, o eperdu, e sinto-os nascidos do negro

o piranha sinto nascido do branco porque há em tudo uma clareza, o esplendor não da revelação, mas da pesquisa.

já sei: o outro-lugar para o qual o piranha me transporta está dentro de um cubo, paredes brancas em volta.

razão de tudo: as paredes estão brancas para q o pensamento, ao q se produza, se afigure com mais... clareza?

piranha focaliza o ainda não focalizado, o obscuro-íntimo: que tal a gente dar uma bisbilhotada no beijo (de língua) entre a percepção e a linguagem?

o dia é o de hoje, vai se deslocando esse super-agora como fosse prancha sobre onda do mar, e sei chegará o momento em que se fará a luz no itaú cultural

mas imaginar a maneira como tudo foi se desenhando, o processo, você rodopiando a pizza-à-moda-de-wagner para obter suas cores, igualmente me seduz

porque piranha é metapesquisa, pesquisa pensando pesquisa, os ontens todos contando muito nesse hoje, que é só o dia da explosão da luz

(que luz? que luz? vontade de estar aí)





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