leitura

contas no calendário, consultas astrológicas, abstinência seguida de cancelamento da abstinência de cannabis, tarô, i-ching, olhos pra que te quero?

meu primo, que por sinal está preso - tenho um primo que pra mim é um irmão e que está preso, mil tomar no cus sinceros e em alta voz por isso -, me disse um dia com dicção de mala que o futuro nunca existe primão, esse povo tá falando pra eu cuidar do meu futuro, até tentei cuidar, mas cadê ele, que nunca chega?

tem umas segundas que têm toda a cara de domingo. domingos q nossa tá uma cara de sábado. sábados com cara de sábado. mas tem dias que estão com cara de dia nenhum. nem segunda nem terça nem quarta nem quinta nem sexta nem sábado nem domingo.

com as luas, o mesmo. um homem sensível sabe qual é a lua é sem olhar pro céu, sem consultar folhinha, sem se lembrar do último ciclo. liga as anteninhas, e percebe. lua cheia. nova. crescente. minguante. dias há em que, parece, vigora uma provisória abolição da lua. lua nenhuma.

pescador na praia calculando os rios de vento e correntes marítimas, olhar altivo, será que vai chover? impossível desconsiderar as marés, as luas, a chuva, o sol, o tao, a pele. mora um deus no correr das coisas, deixar ele agir. o máximo a fazer é não atrapalhar.

nesse dia-nenhum de lua nenhuma, ergo o olhar para o céu:

mundo ao meu redor, pq me abandonaste?

afasta de mim esse calo-me.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito estranho o entretempos. a gente se sente um pouco passado e um pouco nunca. acho que é o tudo zerado dizendo vem e me faz que eu faço você e a gente se escorre em todas as dimensões. é a lua do serdeus. senti isso hoje, incrível ler aqui em vc também.

eu uma vez tive um muito amado preso por causa de um pacotinho de nada. Ele me mandou uma carta com uma rosa desenhada. estava escrito assim: ficou um pouco torta, mas só posso fazer isso de noite quando todo mundo dorme e a cela fica escura. era uma rosa linda, sabe, linda mesmo.