as novenas, o terço das velhinhas, a folia de santos reis, o tempo nublado, uma ou outra manga de chuva, a saudade do terreiro, vai fechando santo o ano que lá vai passando, abra-te devagar, caverna de 2011. q luzes penetram o ambiente ao que se abrem lentamente as portas? com que passadas penetrar o espaço desse quarto? com que voz, com que silêncio? passadas lentas em busca de uma cama no quarto virgem, boa noite queridos, durmam em paz.
a noite pode ser o remanso, a tranquilidade encoberta pelo manto videoguemático da noite sob lua, como pode ser também um cachorro bravo que de repente avança na gente, credo, mas um cachorro que avança por dentro, pq quem late é o dono atacado - os modos de acontecer da noite.

noite deixa ela sossegada no canto todo-lugar que é o abraço da noite

abraço-avanço, pex tt

pq depois de apanhar feio, vamos lambendo as feridas. e é hora de ouvir o lóki, do arnaldo baptista

um cara avançado

sim, é pelo viés da tristeza que estabelecemos o pacto com a alegria

do que resulta serem nossos sorrisos os sorrisos mais tristes do triângulo mineiro e alto paranaíba

último dia de aula

hj foi o último dia de aula na escolinha

a sirene, q é quase uma pessoa, soou uaum, e a água voou

balde de água, copo de água, balão cheio dágua, todo mundo ensopado

primeiro dia de aula eu quis falar pros meninos q nas coisas todas se podia notar uma hesitação entre caos e cosmos

e q a linguagem e o texto tb se situavam nessa corrente

o texto querendo ser cosmos, o espírito de quem escreve... (aquele) caos

e por isso eu fiquei conhecido como o professor do caos e do cosmos

apelido dos mais bonitos q já tive

aí hj foi água geral

pensei: olha como tudo acabou, por aqui. em carnaval

em caos

uma hora eu ia indo, juntaram uns cinco em torno de mim

armados até os dentes

com água

primeiro ataque demorou pq é professor

foram segundos de vamos ver

aí qdo eu despendurei a mochila, o aval tava meio dado

já. chuá. tibum. água na cara.

comemorei e foi: ah, eu tô maluco


Piranha. ou: Neukölln inn 2

paulo leminski não resistiu, wagner, e mandou essa

haja
hoje
para tanto
hontem

é porque hj vc estreia seu piranha, no itaú cultural

mais uma vez, você concedeu q eu participasse da história

o q é um luxo na minha vida.

(teve aquele dia em que a gente trabalhava sob os 11 graus geladíssimos da noite de são paulo)

lembrei desse poema porque hoje estará grávido de todos esses dias, meses, em q vc veio amadurecendo o piranha.

q luz o piranha dará à luz?

a imagem que eu guardo do espetáculo, ainda não acontecido fisicamente em sala de teatro, mas desenvolvido já, mapeado já - desenvolvido de que maneira? com que mapas? com que contornos? sobre qual tela? - mapeado, como ia dizendo, pelo seu trabalho na direção de tudo, é a de um grande branco que se diferencia e escurece mais aqui, menos ali, de forma a surgirem os desenhos todos - sim, é pela diferenciação do branco que você constrói esse piranha que imagino agora, wagner.

se deus criou o mundo a partir do escuro, piranha criou o mundo a partir do branco

soube que o isaac newton aplicou rotação à roda em forma de pizza, cada pedaço de pizza-à-moda-de-newton apresentando uma cor, e que a velocidade da rotação veio a somar, no conjunto retina-memória de quem via ou imaginava o experimento, as cores todas, e o resultado foi o branco.

o branco de newton é o resultado da pacificação do tudo-junto, acho mesmo possível que você tenha se valido dessa tinta pra desenhar o piranha

lembro sempre de seus primeiros trabalhos, a metáfora da colheita, o eperdu, e sinto-os nascidos do negro

o piranha sinto nascido do branco porque há em tudo uma clareza, o esplendor não da revelação, mas da pesquisa.

já sei: o outro-lugar para o qual o piranha me transporta está dentro de um cubo, paredes brancas em volta.

razão de tudo: as paredes estão brancas para q o pensamento, ao q se produza, se afigure com mais... clareza?

piranha focaliza o ainda não focalizado, o obscuro-íntimo: que tal a gente dar uma bisbilhotada no beijo (de língua) entre a percepção e a linguagem?

o dia é o de hoje, vai se deslocando esse super-agora como fosse prancha sobre onda do mar, e sei chegará o momento em que se fará a luz no itaú cultural

mas imaginar a maneira como tudo foi se desenhando, o processo, você rodopiando a pizza-à-moda-de-wagner para obter suas cores, igualmente me seduz

porque piranha é metapesquisa, pesquisa pensando pesquisa, os ontens todos contando muito nesse hoje, que é só o dia da explosão da luz

(que luz? que luz? vontade de estar aí)





Neukölln inn

Era uma vez um david bowie dilacerado pelas bads do vício da cocaína toda-hora

Apesar de trincado, conseguiu arrumar as malas e partiu pra berlim. Foi morar com iggy pop.

Cada qual em seu quarto, imagino que cheirasse a cigarro e maconha o apartamento deles. Piso de taco? Revistas no chão? Que música era?

Voz dos dois, certamente. A saudade da cocaína. Os discos em que vinham trabalhando. O toctoc de gente andando pela casa, na madrugada

.....

O apartamento do william burroughs ficava mas era em tanger, africa. Dava a impressão de estar sempre parado, estacionado sobre si, o apartamento - que era na verdade um quartinho de bordel. Próprio burrow, q é como carinhosamente o chamo, teria dito que ali eram horas e horas sentado na cadeira com os olhos fixos sobre o bico do sapato. Recorde mundial de olhos-fixos-no-sapato, quem somos nós, amantes do esporte? Burroughs menciona o número das 12 horas. O planeta está girando, amigos, mas o homem de terninho e chapeu, nosso personagem, está fora da dança. Burroughs está em outra, e sozinho. Perfume do apartamento dele, aqui na minha lembrança, era de cigarro, ópio, haxixe e outros fumáveis que essa criança aqui não veio a experimentar, pra dizer. Burrow devia passear sempre no fim de tarde, depois de acordar, e tanger se afigurava em polvorosa explosiva: gente pra tudo q é lado, pano estendido voando no vento, o timbre das vozes todas. Suor sobre a camisa de botão, burroughs devia gostar muito daquilo.

Teve o dia em q pintaram o allen ginsberg e o jack kerouac, e deve ter havido um momento inicial de silêncio. Os amigos recém-penetrados no quarto, três segundos de chapéu pousado na cama. O calor e o caos de tanger lá fora, silêncio calmo de monges lá dentro.

esse disco último do arnaldo eu ouvia numa fase em que parecia estarmos finalmente diante da paz eu gostava muito do perfume da madeira do piso daquela casa era bom ver como a bola rolava daqui pra lá e o filhote corria junto sorrindo com aquele jeitinho desengonçado q jeito desengonçado é o q desenha o charme das pessoas e teve um dia q passou um documentário tão bonito sobre o paralamas foi ali que eu vi q se trata de uma grande banda coisa q eu ainda não havia reparado a verdade é que eu sou o cara no quesito não-reparar-nas-belezas tantas como o perfume do taco daquele piso foi justamente sobre ele que eu desenhei a passada minha que nunca foi uma passada sorridente mas é atrás da bola q eu corro uma bola invisível e inalcançável mas foi por causa dela q eu teria dito pra quem estava comigo vou dar uma saída por que afinal tenho sempre q dar essa saída eu sinceramente não sei mas a bola deve ser a solidão extrema q um dia infelizmente alcanço, se já não alcancei
legal enzo banzo, tô aqui chumbado brodi, massa demais esse email meow

acabei de viajar nos groove

foi massa demais, deu vontade de ouvir aquilo tocando bateria, captando a força deles e devolvendo pro tambor, vibrar e bater naquela frequencia, bem rock tudo

e vontade tb de chorar/ cantar em cima daquilo, a música penetra rock suscitando esportividade, emprego de força, empréstimo, transcendência

em tudo sei que vc pode dar aquele nozinho de marinheiro, cada um sendo único, pq vejo assim o seu trabalho, qdo tamo tocando junto: vc amarrando com as cordas do violão, amarrando mesmo, as cordas na mão, amarrando - os ataques soltos e esparsos do baixo e bateria

a viagem musical tem suas particularidades, por isso sempre toco com os olhos fechados - porque o ao redor pode querer desmentir os milagres q estou vendo

muito rock, rock de franzir a cara, rock de carinha torta, aquele rock do reggae por exemplo: bateria sofrendo com a orelhinha colada no chimbal, aquela curvatura q o chelo soube identificar e reproduzir como ngm, o mergulho do batera na fogueira do chimbal é a busca do homem pelo sofrimento bom

salvador, bahia

mas deixa eu parar de viajar q o miles tá castigando pois é daqui a pouco vou ouvir a outra música q vc mandou abrasso

você diz que eu sou um traste
e que nao pode haver guindaste
que me resgate das baixezas do espírito

concordo com tudo que é dito
não existe palavra má
mas o que não pode passar batido
é que aquilo que você é
jamais poderia ter sido
não fosse minha colher

(de shazan
só sobrou o grito
e anéis
se separando)

thanx god

o final de semana começou com um ensaião de horas e horas no estudio el rocha, pinheiros, são paulo

arrigo passou por lá. paulo barnabé também. karina buhr. bnegão. anelis assumpção. gravou-se uma entrevista pra tv globo sampa, essa rapaziada mais o porcas borboletas tocando, jam, algumas coisas do itamar assumpção. a timidez de cada um, cantando, tocando, olhadinhas voando como borboletas, instaurou infância geral - inocência. o círculo que se desenhou, gente nas extremidades, constituiu mandala permanente, valha-nos a memória dos momentos bons.

ensaiamos com o arrigo primeiro. nem uma foto fosforescente poderia transmitir a força do arrigo ao piano e vox. os personagens dele. as duas mãos trabalhando separada-juntamente, sete tempos e sete espaços mixados e masterizados na música única do arrigo. coisa de fã? o mais legal é ficar vendo a faceirice dele.

depois veio o paulo. igualmente faceiro, delicado. a potência da música e da poesia do paulo alimentaria uma araguari inteira, concorrência de itaipu, kilowatts kilohertz, zzzam. tocamos com o paulo o q a gente já vinha tocando, até que surgiu a ideia de tocar tô tenso, o paulo na bateria. quem estava no estúdio não pode se conter, alguma coisa estava por explodir. o vi, radiante, deve ter ficado com vontade de beber. o punk estava ali, inteligentíssimo como sempre.

bnegão chegou com seu vamo que vamo, nunca vi um cara tão bonito, dava pra tirar trezentas fotos dele bebendo água, que era só poster antológico. o arranjo veio que veio, o itamar compôs aquela música pro bnegão cantar, sem saber, sabendo.

pronto, a quinta-feira estava desenhada, com requintes de filme. alguém indicou, no bar, o luxo daquilo tudo. estava ali uma história da nossa música, derretam todas as estátuas, deixa o chumbo derretido, q é sempre uma imagem bonita. bnegão, arrigo e paulo barnabé. e o itamar assumpção. o caetano veloso e o jorge mautner a gente encontrou no domingo seguinte, conversando, embaixo do palco, embaixo da chuva, com o pedro sá, pouco antes da passagem de som da nina becker, na jambolada.

aquele hoje da sexta passada, dia seguinte ao dia dos ensaios, era dia de rock. o porcas cantando o segundo disco do itamar assumpção, no sesc pompéia.

passagem de som, camarim, banhozinho astral, frutas, tava tudo tranquilo. até que a serena assumpção apareceu.

deusíssima, aquele charme que só vendo, já chegou perguntando: cadê a cachaça que o moita ficou de me trazer.

moita saiu da sua moita pra dizer, sabecomoé, serena, ram-ram, é que a gente veio de avião, e líquido inflamável as aeromoças costumam barrar, mas mesmo assim eu trouxe, peraí q um minutinho eu pego.

aí saiu, e com a passada do macunaíma, buscou uma garrafa de boazinha lá no norte de minas.

não é que a serena quisesse beber. é que um trabalho precisava ser feito. lu de laurentiz, com a passada do macunaíma, veio ao sesc pompéia só pra esse trabalho.

aí estávamos nós ali, devotando nosso respeito ao grande zé pelintra, amigo do itamar. vibrando com ele, pra que tudo corresse bem. ascendeu um calor do chão, o baixo ficou alto, altar se elevou, que árvore invisível brotou ali? eu sei.

aí depois disso precisa nem contar. deixemos o testemunho do chumbo derretido.

é preciso dizer apenas que as maravilhas abundaram, nas duas noites iniciais do lançamento da caixa preta, discografia completa do itamar. os 4 shows foram muito intensos, rituais, cada um à sua maneira.

ao fim do show do porcas, descendo suadão do palco, do nada começou um ponto pra xangô, na minha cabeça. bem na hora que a serena apareceu. nem falei nada, fiquei foi cantarolando o ponto no pé-do-ouvido dela.

dia seguinte soube que o itamar, e o pai dele, eram filhos de xangô. não tive dúvidas: justiça foi feita, a vida e a obra do ita estavam muito satisfatoriamente celebradas. missão cumprida, zena. serena e anelis. já timbrou.

serena disse que foi por ter-nos ocorrido assim o ponto pra xangô, que ela me presenteou com a muiraquitã fundamental, a pedra mais importante da música brasileira. a pedra negra do ita. está aqui, na minha frente, nessa tarde. trabalhar para que seja uma bela tarde, essa a nossa - taí a lição da pedra.

domingo foi voltar pra uberlândia, rever os amigos todos incendiados pela jambolada-conexão vivo, gente do brazil inteiro. deus existe, deus tá vendo, mas faz vista grossa quando precisa.

porcas, paulo e arrigo no palco, os amigos em volta, com a boa-vontade de sempre. tava tudo ligado na tomada, e pelo jeito a turma fez jus à potência do milagre da eletricidade.

epa hey

sabemos o que é movimento.

deus tá vendo, faz vista grossa, a gente tá vendo ele, fazendo vista grossa, olharzinhos de borboleta.

valeu aí, broder. não posso te ver mas sinto que a vida pode ser boa. te vi?

is this the end?

caramba´s. só agora me dei conta q a loja e o bar do goma vão fechar. tô aqui nessa lan house, o som do futebol de areia do esporte espetacular colorindo de domingo esse domingo de eleição, e deu até uma vontadinha de chorar.

o fim das coisas é mais final, qdo o meio e o começo foram de incêndio.

(o acendimento intenso de repente apagado é que causa o choque a que chamamos saudade)

mas o goma, pra mim, nunca foi espaço de paz

amor e ciúme, paixão, muito ciúme, pq a noite não esteve para brincadeiras. e estamos todos reféns de um deus anônimo, objeto-de-adoração-não-identificado, deus traquinas desconhecedor dos futuros

de noite, no goma

a cerveja na cabeça, transtornando.

as dolores, as tristezas, o luto. como dói o olhar da ex-namorada bonita e triste no goma - long neck na mão.

eu morri foi no goma.

o goma de noite foi um anti-colo. recolheu, com coragem, os nossos eros e nossos tânatos, nosso azul e nosso cinza, pra esparramar tudo no chão. como pisadores de cacau da novela das 8 da globo, balançamos o quadril ao que pisoteamos nosso chocolate. que rito será esse, as pessoas embaladas nos saguões do goma?

as dores do mundo, doendo no goma.

o sentimento do mundo.

de banho tomado, no goma

desenhou-se exu maternal, no goma oceano foi que desaguaram as máguas de uma enxurrada-madrugada

amor pelo goma, demais, pq foi bonita a subida.

taí um estado civil que pode ser
you are my song
i am your singer

trovador rouco

eu sou um trovador rouco
dizendo, pouco a pouco
o que se pode dizer jamais

COLUNA MUSICAIS

A LIBERDADE DO LIVRO

Foi num desses domingos aí das semanas passadas que participei de uma promoção via internet. O primeiro que mandasse um comentário para o blog da escritora Andréa Del Fuego iria receber, via correios, um exemplar do livro “Montanha-russa”, do Fernando Bonassi. Meu comentário dizia que o atraso era especialidade da casa, bem como a derrota - em qualquer tipo de competição ou performance. Mesmo assim, ganhei a corrida, com um segundo de vantagem sobre o segundo colocado. O livro está aqui a meu lado, e essa experiência toda só veio a revelar uma característica fundamental desse estranho objeto que é o livro: sua transitividade e transcendência.

O livro é sempre transcendente porque leva sempre a alguma outra coisa, algum outro lugar - ainda que vago e misterioso - além do aqui material da tinta no papel, que é o corpo do livro. O leitor é um visitante de outros mundos. E o livro é sempre transitivo porque está sempre em trânsito, ele mesmo passeando. Viajar não é atributo apenas do leitor, porque o livro, em sua materialidade condensada, também costuma viajar. As bibliotecas, com suas fichas datilografadas e com seus carimbos de datas variantes, estão aí, pra comprovar a propensão do livro em correr mundo.

De todos os objetos, o livro é o que menos se presta à apropriação. Por mais que se abrace o livro, prenda-o na prateleira, um dia ele vai bater suas asinhas. Aqui em casa, mesmo, semana passada: um amigo, conferindo a prateleira, se deteve diante do dicionário do Câmara Cascudo. Dicionário de mitos e folclores do povo brasileiro. Conheço o rapaz de longa data. Sei de seu interesse pelas nossas mitologias. Ao que ele se pôs a folhear o livro, declarei: leva, é presente pra você. Aquele livro era muito mais dele que meu.

Então estão aí os livros todos, em seu passeio misterioso, alheios às regras da apropriação. Foi o Sarte quem disse: a arte (e a leitura) é sempre engajada, porque presume um exercício de liberdade. A liberdade do leitor, em trabalhar os sentidos da maneira que lhe vier à telha. Interessante é que, aceita a tese do livro viajante, possamos estender a liberdade verificada no exercício da leitura ao próprio livro. Ao corpo do livro. O livro está solto, em seu passeio, e nossas mãos não podem com ele.


Publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia

Porcas a passeio - relatos de viagem

1) O Júlio Cortázar
O Cortázar foi quem afirmou: não existe tema ruim. Qualquer tema pode dar um bom escrito. Mesmo os temas mais triviais. Eu mesmo, aqui no blog, nunca consegui reportar os grandes acontecimentos. Mas os sete calangos do quintal. O banheiro do posto de gasolina. O som do vento batendo no cadeado. Tudo pode ser tema. O grande evento já é uma coisa realizada, está perfeita. O evento sutil sim, merece canto. Aí a pena vai correndo. A revolução não será televisionada.

2) O Assum Preto
Na categoria “evento sutil” podem constar, ainda que esmagadoras, as dores do mundo. Sinfonia de assuns-pretos, que maestro é teu regente? Não cantamos pra nos salvar, nem pra salvar o mundo. Mas pra morrermos todos abraçados, nós e os mundos. Submersão do sol do teletubbies, tchau tchau risonho de fade out, náufragos morremos afogados nas mágoas de uma madrugada-enxurrada.

3) O Walter Benjamin
Teve uma aula que eu assisti de ressaca. Mas pude salvar o Walter Benjamin (pronuncia-se “benjamín”) defendendo, ainda bêbado, a tese de que a literatura surgiu com o primeiro relato de viagem.

4) O Último Banho
Até que as águas do último banho plantaram em mim a vontade de contar das nossas viagens (porcas & borboletas) por inglaterra e frança. Tinha contado ainda não, quase nada. Nem nos papos aqui em casa. Mas o texto, vocês sabem, é quem pega a gente pela mão. Pra dizer: vamos existir. Aí esse que lá vai correndo me tem pelas mãos, agora.

5) Os Parentes e Amigos
Ainda não havia contado nada porque não sei muito bem como dizer que estive em Paris sem parecer metida. Londres é um pouco mais fácil. Então começar por lá. Opa, sem saber, estamos seguindo a ordem cronológica. Porque chegamos primeiro em Londres. Não é por modéstia, viu. É por fidelidade aos fatos.
Claro, serei infiel.
Mas o texto me olhou com aquela carinha do gato de botas do Shrek, quis porque quis existir, e me convenceu com um argumento racional (o argumento racional e a austeridade são a pedra do moinho – o austero é quem tem razão): pombas, danislau, os parentes e amigos estão todos querendo saber. As pessoas sentiram comprazer com a viagem do porcas, viajaram junto. Agora você amanhece calado pra dormir mudo?

8) Londres
A van de Uberlândia a São Paulo me lembrou aquela situação de desenho animado, todo mundo em apuros no balão colorido, jogando ladeira abaixo tudo que fosse peso, ver se o balão se mantinha no ar. O que foi embora, anhanguera abaixo, no percurso até São Paulo, não está no gibi. Coisas ilegais, vocês sabem. Mercadorias do Paraguai. Porque a rapaziada queria entrar em Londres limpeza, supimpa, com aquela carinha de primeiro emprego.
Embarcamos no avião da Tam por volta das dez da noite. Impressionante a capacidade do Oceano Atlântico em embaralhar o tempo. Porque foi uma sonequinha no meio da madruga, e quando demos fé o ponteiro do relógio já tava todo desafinado. O tal do fuso horário. Soube que até hoje o Ricardim não se adaptou ao fuso. Porque desadaptou-se com o do Brasil, e não adaptou-se ao fuso da Europa.
Um táxi muito louco, sempre na contramão, nos conduziu ao hotel. Um cinco estrelas supimpa, com vista pro Tâmisa, macintosh no quarto, sabonete líquido no wc, etc. Enzo quis me convencer a ligar na recepção e perguntar em inglês o que era dado, naquela suntuosidade toda. Perguntar o que é “dado” é um traço marcante de nossa cultura mineira: sempre perguntar o preço de tudo, antes de consumir. Na dúvida, agimos como um bom mineirinho. Colocamos um cadeado no frigobar.
Chegamos ao hotel vinte e cinco minutos antes da performance de Arnaldo Antunes e Marcelo Jeneci, no Festival Brasil. A moça da recepção me mostrou um mapa, me inteirei do percurso, tomei um banho voado, e fui correndo (literalmente) pro SouthBank Centre. Quando atravessei a ponte do Tâmisa, ouvindo Brian Eno no mp3 player, não resisti, e dei um salto, os braços comemorando. Um inglês perguntou: gol de quem? Disse a ele que era futebol não, era a alegria de estar ali. Ele sorriu um sorriso que me fez lembrar, pela primeira vez na viagem, a música do Caetano: London London.
Assisti a performance, o que injetou em mim uma overdose de energia criativa – o veneno de Arnaldo e Jeneci. Na saída, troquei uma figura maravilhosa com os dois, e pude rever o sorriso de alma inteira do Arnaldo. De novo diante do Tâmisa, em meio às mulheres mais lindas do mundo, caí em tentação de novo, e dei um giro hippie sobre meu próprio corpo, os braços abertos, rotação e translação do meu corpo para saudar e agradecer aos deuses da rotação e translação. Acordei com os aplausos de um grupo londrino, sorriso faceiro nos lábios, achando que era mais uma performance do Festival Brazil.
Nesse momento, já vigorava a saudade dos amigos. O que esse povo estará aprontando agora? E voltei correndo para o hotel, em busca de aventuras.














(Continua. Não vou torrar a paciência de ninguém com texto longo. É compromisso, dessa vez: continua)




um et e outro et

numa foto bem clichet

Porcas no Vinil



e tem promoção: retuitando a tag #porcasnovinil, o amigo concorre a ingressos
tranquilizem o brazil
o meu short sumiu
um shortinho da adidas
mas assim é a vida

e assim é o brazil
o país do extravio
roubei um hd externo
q estraguei batucando na mesa
me lembrei do broder dizendo
q o maior inimigo do hd é a trepidação
pensei
se está contra o batuc está contra mim
hds vão e vem
mas o batuque é um só
pum baticum pumpum

cazuza e ezequiel



ontem, dia 7 do 7, foi o dia que o ezequiel neves morreu

7 do 7 foi o dia que o cazuza, amigão dele, morreu tb

algum anjo avisou pra eles, lá no começo dos anos 80, q o carimbo ia ser o mesmo para os dois

sei q avisou

duvidam?

e eles acharam graça

pq o abraço deles - aliança deles - existe desde sempre

dia bonito. 7 do 7 é o dia do Seu Rei também.

nossos planos são muito bons

Porcas Borboletas na Europa

Na próxima semana, dia 15 de julho, começa a primeira tour internacional do Porcas Borboletas. A banda viaja rumo à Europa, onde permanece por dez dias, para realizar três apresentações.

No dia 16 de julho, em Londres, o Porcas se apresenta no Festival Brazil, do Southbank Centre. O festival levará aos palcos atrações como Maria Bethania, Gilberto Gil, os Mutantes, Arnaldo Antunes, Ernesto Neto, Afroreggae, dentre outros. E o Porcas Borboletas, que faz sua apresentação com a participação especial de Arnaldo Antunes. Aí está o link do evento:

http://www.southbankcentre.co.uk/find/festivals-series/festival-brazil



Já no dia 18 de julho, o Porcas Borboletas se apresenta em Victoria Park, no Festival Lovebox.


http://www.lovebox.net/



E a tour se encerra no dia 24 de julho, em Paris, com a apresentação no Internacional Concert Bar.


http://www.linternational.fr/

Os amigos estão todos convidados a participar dessa bagunça. Quem estiver na Europa pode conferir os shows. E quem não estiver pode abolir as distâncias acompanhando a cobertura de todos os fatos, através do site do porcas e do twitter da banda (www.twitter.com/porcasapasseio)


Combinados? Abraço pra todo mundo!


desenhando juntos

eu e a fabiana zago

sobre a mesa muito louca do squat do alê

COLUNA MUSICAIS

ANTOLOGIA DA DERROTA

O mais comum, entre os torcedores de futebol, é desejar a vitória. Uma recente pesquisa aí de sei lá qual instituto de ciências médicas, levantada pelo mestre Xico Sá, acabou prestigiando ainda mais a vitória, no futebol. Segundo essa pesquisa, os níveis de testosterona aumentam significativamente com a vitória do time pelo qual se torce, o que pode resultar em um aproveitamento mais otimizado dos prazeres do amor carnal. Só por isso, certamente, já vale a pena torcer com todas as forças pela vitória do time de coração. Mas só por isso. Porque a derrota é sempre mais edificante que a vitória.

Quer coisa mais chata que ficar assistindo aos jogadores do time campeão pulando como loucos pelo gramado já tomado pela bagunça, levantando camisetas e louvores ao ceu? Utererês à parte, muito mais interessante, por exemplo, é a imagem do penalty perdido. Ou a marcha do jogador expulso, rumo ao vestiário.

Dois momentos de derrota me vem à mente, agora. O primeiro foi o penalty perdido por Roberto Baggio, na copa de 94. Enquanto o Brasil inteiro estava de olho no Taffarel, feliz da vida, eu estava mais interessado na suprema elegância do jogador italiano. As alegrias do time brasileiro têm mistério nenhum. Ao vencedor, as batatas. Muito mais enigmática, misteriosa, humana, foi a expressão do craque da Itália.

Outro momento de derrota charmosa se deu também por ocasião de penalty perdido. Marco Antônio Boiadeiro, meio-campista genial, bateu uma bola pra fora, o que eliminou o Cruzeiro - ou foi a seleção brasileira? - de algum torneio importante, ali pelos anos 90 (a falta de memória é uma de minhas derrotas, como perceberam. Vão perdoando). Boiadeiro, depois de perdido o penalty, dá início à sua marcha até o vestiário, com a cabeça baixa, aos prantos. Nisso, Cafu realiza a jogada mais bonita de sua carreira. Sai correndo de onde estava, em direção ao companheiro de equipe, chega-se a ele para, com toda a delicadeza do mundo, erguer com os dedos o queixo do amigo cabisbaixo. Cabeça erguida, já firmando a respiração, Boiadeiro, em sacrifício, ofereceu ao mundo inteiro a beleza de sua feição marcada pelo choro. Eis o homem, pensei na hora.

A derrota é bonita não porque queiramos desfrutar a dor do outro. Mas porque podemos reconhecer, na dor do outro, uma dimensão da vida evitada a todo custo pela lógica capitalista. A derrota, como a morte, estão aí. Não somos campeões. Somos humanos (demasiado humanos).


publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia

atmosfera tingida de rosa porque o sol de repente se posta onde assiste e projeta sobre nossas costas o primitivo cinema: seis horas

alguns twits em torno do jogo de ontem

a vuvuzela fica bonita qdo o sopro é de frustração e ansiedade. só o sopro da derrota pra melhorar a vuvuzela

@fodadeesquecer acabou de me dizer aqui q esse jogo ele já assistiu

o surto delicioso da adrenalina. alguma coisa importante está para acontecer? os motores têm som de apressados. o sopro é ansioso.

alguem aí já viu a imagem/ de robert baggio mirando romário/ na saída do vestiário ?

o mecanismo através do qual a vuvuzela de repente toma as ruas do brazil

o cartão vermelho é sempre um lance bonito. a fatalidade. a cor quente se elevando do fundo verde. a postura do juiz. a mão na cabeça.

a marcha do jogador expulso, rumo ao vestiário.

@nassar a regra é clara, nassar. mas, no carnaval, a regra é a primeira a ir por água abaixo.

uma coisa bonita no futebol é o 1 minuto de silêncio

ficção: kaká pede ao assessor maconheiro q prepare a camiseta eu amo jesus pra levantar qdo gol. assessor engajado dá o golpe: legalize já

passou um carro tocando 90 milhões em ação, pra frente brazil. propaganda de uma pizzaria do bairro. oswald de andrade ia gostar disso

a copa do mundo, o galvão bueno, a fátima bernardes, nada é sério mas o movimento em torno é colossal. o homem é um ser de ficção. brazil !

kind of blue


O fenómeno da luz elétrica ainda impressiona




A eletricidade revela a natureza íntima das coisas -

o som elétrico sendo, portanto, um som orgânico





Os acordes dos dois tecladistas de miles davis: eletrocuções regozijantes – as mãos nervosas aplicando através do teclado choques elétricos dotados de sabor





Que deus pousou no varal da guitarra? Porque agora o som está solto, portador de volts



Porcas no Multishow

opa, saiu esse video do porcas no programa experimente, no multishow

acho q é um dos melhores videos da banda

abra-te

COLUNA MUSICAIS

A TECNOLOGIA PERFEITA

A invenção mais importante do homem moderno é o aparelho de som. Em termos de tecnologia, nada está à altura. O aparelho de som é o espelho da alma do homem. Porque a música revela sempre uma intimidade. Não necessariamente a intimidade do compositor, ou do intérprete. Mas uma intimidade já difusa, não-situada. A intimidade do Homem. O aparelho de som permite acessar essas intimidades. A viagem musical é sempre uma viagem pra dentro.

E uma viagem pra fora também. Ouvir o canto do povo de cada lugar, de certa forma, transporta para o lugar desse povo que canta. É muito viajado, o homem que escuta música. O que é o acontecer de um lugar como o Peru? Um monte de coisa, tudo fundido. O relevo, os animais, o clima, as roupas, as fachadas dos edifícios... e a música! Não sendo possível, no momento, dar uma olhada no relevo, nos animais, no clima, nas roupas, nas fachadas dos edifícios do Peru, o que poderemos fazer? – Ouvir a música peruana.

São os benefícios do aparelho de som. Porque os milagres são infinitos. O aparelho de som permite não apenas as viagens no espaço, mas também uma viagem no tempo. O aparelho de som permite ouvirmos a voz (penetrar na intimidade?) de uma pessoa que já passou dessa pra uma melhor. Carmen Miranda. John Lennon. Nelson Gonçalves. O aparelho de som revoga a morte. O aparelho de som permite a festa perfeita: todo mundo junto, os vivos e os mortos, os daqui e os de acolá. Os palestinos e os judeus. Os atleticanos e os cruzeirenses. É importante ou não é, uma tecnologia dessas?

O automóvel, por exemplo, não chega aos pés do aparelho de som. O automóvel está mais é poluindo a cidade, deixando o trânsito desagradável. Não é à toa que essa coluna defende abertamente: estamos do lado do aparelho de som. Porque o mais importante, no automóvel, não é o motor. Nem os pneus. Nem os assentos. Nem o seguro. Nem a prestação. Nem o porta-malas. Um carro não precisa de nada disso. O que um carro precisa, precisa mesmo, mais que pneu, mais que motor, é de um aparelho de som.

E fica aquele abraço pra todo mundo que tem som no carro e é capaz de fazer um uso não-poluente da tecnologia. Porque som automotivo alto, berrando pelas ruas seus jingles políticos, promoções de lojinha ou tumtumtum de balada ruim, é o lado negativo dessa força.


publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia


COLUNA MUSICAIS

RIQUEZAS SÃO DIFERENÇAS

Não sei bem onde, mas vi alguém dizendo: que se o pensamento ateu e materialista praticado na Europa, ali pelo século 19 quase 20, desembarcasse implacável na África, levando todo mundo a não mais acreditar em seus deuses, o prejuízo era certo – adeus tantas danças, músicas, adereços, rituais. Naquele contexto africano, na dúvida entre os deuses existirem ou não, muito melhor ficarmos com deuses-existindo: louvar seus deuses torna o homem mais divino.

Pois vocês vejam a beleza da Ave-Maria, de Schubert. Vejam o transe das velhinhas rezando terço, à luz das velas. Vejam os templos todos, espalhados pelo mundo. Os sinos. As mantas, túnicas, turbantes. Os incensos. Os cantos, os tambores. As posturas, as danças. O símbolos. Com os olhos voltados para o ceu, para o além, para a transcendência, o Homem acaba por dotar o arredor da beleza divina. Louvando o além, o ali, o homem embeleza o aqui. Não pode haver maior coerência.

Cada cultura, cada povo, cada família, escolhe livremente o modo de realizar suas louvações. Isso é, inclusive, um direito garantido pela Constituição. Mais inteligente será a pessoa desprendida o bastante para apreciar as manifestações culturais das várias religiões. Eis aí um dado, antes de tudo, cultural. Um dado artístico, antropológico. Eis o homem.

Eu mesmo, sempre gostei de religião. Fui coroinha, rezava o terço, amava os vitrais da igreja. Depois mergulhei no Rock, me identifiquei com suas celebrações. Até que um fato revolucionou tudo: vim a conhecer a Tenda Coração de Jesus, em Uberlândia. Terreiro de umbanda dirigido por Mãe Irene de Nanã, fundado há mais de sessenta anos, pelo Pai João da Bahia. Fiquei completamente arrebatado por aquelas belezas todas: tanta gente dançando, fumaça de ervas santas no ar, os ritos, a espiritualidade manifestada. A amizade. Afirmo sempre: nunca, em tanto tempo de andanças, vi tamanho amor e beleza, como vejo toda quarta-feira na Tenda Coração de Jesus.

E o que se passa é que, a despeito das garantias constitucionais, a Tenda (e a irmandade umbandista, como um todo) vem enfrentando cada vez mais dificuldades, na realização de suas celebrações. A intolerância religiosa ainda é uma realidade. Mesmo em Uberlândia, essa Salvador, com suas mil belezas afrobrasileiras. Devemos ser cuidadosos. Não pode haver prejuízo maior que o sacrifício das belezas transcendentais. E é sempre bom lembrar os Titãs, quando cantam: “riquezas são diferenças”.


publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia

diante do mistério da vida

mas com a sensação de estar prestes a desvendá-lo

ou, pelo menos, com a sensação de ser possível desvendar alguma coisa.

(algum dos fernando pessoa diria q não há mistério algum

timbrado assim, o mundo acabou foi mais misterioso ainda)

ê ê.


restarting

retomar o contato com o blog da gente parece tentar reatar relação amorosa já encerrada

o papo fica meio empacado, no começo

não. o papo até corre tranquilo. e conversar é a coisa mais fácil q existe.

mas o contato.

por onde recomeçar?

namorar é, mais q qq coisa, uma continuidade

qdo se descontinua um namoro, primeira coisa q desce garganta abaixo pelo gargalo da descarga é a naturalidade dos movimentos conjuntos

nossa, q frase grande

tá difícil recomeçar o namoro com esse blog

não sei por onde começar

comecei

comecei mal, pelo jeito

vou ali

COLUNA MUSICAIS

FOGO DELICADO

Acendem-se os fogos do bairro Santa Mônica. As primeiras luzes dos postes, as mil churrasqueiras fumegantes, o forno de barro das pizzarias. As lanhouses e casas de videogame revelando a expressão contrita dos meninos com joystick na mão - os olhos refletindo a fogueira de elétrons que é o monitor diante do qual estão sentados.

Passear pelo bairro Santa Mônica, quando cai a noite, é transitar por entre incêndios. Isso pra não falar nos incêndios vespertinos. Porque a nudez, aqui, é praticada com requinte. Nem na África deve haver tantas meninas bonitas. É que o pessoal do bairro se veste com toda a sofisticação do mundo: o pessoal sabe se vestir justamente porque sabe se despir. Dou notícia também que os meninos são bonitos. Arrastam o chinelo no chão com malemolência, uma ou outra medalha de rapper sobre o peito. E toda gentileza e cortesia no trato.

Assim é o bairro Santa Mônica: um ambiente de vivências estéticas. Um bairro em erupção. Uberlândia inteira é assim? Certamente. Uberlândia revela belezas de que até (e principalmente) os uberlandeses duvidam.

E foi numa dessas madrugadas em que passeava pelo bairro que me vi de repente adentrado no Bar do Seu Eurípedes – o Soripim, ali da Belarmino, antiga 4. Meu velho amigo, o professor Joel, com cabelo de pianista louco, dedilhava seu violão de 7 cordas, na companhia de um grupo de músicos inacreditáveis. Abri uma exceção ao meu regime de abstenção de álcool, pedi uma cerveja, estacionei ao lado do balcão, para ouvir o repertório do Joel e sua turma. Lados B de Noel Rosa, Nelson Cavaquinho. O melhor da nossa cultura brasileira sendo festejado ali, despretensiosamente, no bar do Soripim, no Santa Mônica.

Até que um evento colocou mais lenha na fogueira. Duas musas - já senhoras - triunfalmente, postam-se na porta do estabelecimento. Com toda elegância, pedem licença. O grupo de músicos festeja a chegada. Já a próxima canção conta com o solo vocal de uma das damas. Fascinação: “Os sonhos mais lindos/ Sonhei”. A parceira, como que embalada pelo espírito da música, baila de um lado para o outro do salão. De repente, solta a voz. A casa cai. Não pode haver canto mais bonito. Há regozijo na expressão dos outros cantores. Olho para um, olho para outro, percebo a grandeza do momento. Muita festa entre os olhares.

A porta do bar está semiaberta. É possível ver o frio lá fora, pelo timbre envernizado do incêndio das luzes de mercúrio. O Santa Mônica é um bairro que se consome num fogo delicado.

COLUNA MUSICAIS

GOMA

O Goma está localizado no centro da cidade de Uberlândia. O Goma está localizado, e isso é o mais importante. Uma idéia com lugar é sempre mais potente. E o Goma é forte pelo seu tanto de idéia e pelo seu tanto de lugar.

Como lugar, é aquilo que quem conhece, viu: uma loja (onde se expõem roupas, acessórios, peças de artesanato, discos, livros etc), o espaço do café, a galeria de arte e o espaço para shows. Como ideia, traduz uma visão de mundo que quer colocar em questão a velha lógica de circulação dos signos artísticos e culturais.
O fato de o Goma se localizar no centro da cidade se afigura como um emblema, um resultado feliz, da história recente da vida cultural em Uberlândia. As manifestações mais experimentais sempre foram relegadas à margem. Em termos de música pop, a “margem” mais efervescente, por anos e anos, foi a Universidade. Talvez tenha sido essa a configuração do universo pop-musical de Uberlândia, desde os anos noventa: no centro da cidade, as manifestações mais comerciais, fundadas na música cover e na técnica aprimorada dos músicos; na Universidade, as experimentações com a linguagem, as bandas mais malucas, ainda que sustentadas por músicos diletantes.

O Goma é emblema porque contribui para o embaralhamento dessa configuração. O Goma tira as coisas do lugar. Sacode. Favorece a proliferação das mensagens mais inventivas. Ao mesmo tempo em que finca, no centro de Uberlândia, uma bandeira assegurando território livre, espaço de experiência. Se o Goma assume papel fundamental na história da vida cultural de Uberlândia, sua atuação no cenário nacional não fica pra trás. O Coletivo Goma é um dos mais importantes na extensa rede do Circuito Fora do Eixo, movimento que conta hoje com mais de quarenta pontos consolidados em todo o país, e que vem assumindo cada vez mais o papel de protagonista na evidente renovação por que vem passando a música brasileira.

E vale aproveitar a deixa pra mandar um salve para o saudosíssimo Estação Cultura, laboratório de linguagem dos mais sofisticados, que segurou as pontas por muito tempo aqui em Uberlândia. Mas o Estação Cultura merece um capítulo à parte, nessa História de Quem Faz a Arte Acontecer em Uberlândia.

Publicado na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia

COLUNA MUSICAIS

O SAMBA MANDOU ME CHAMAR

Que é uma Universidade? Que é o acontecer de um campus universitário? Salas de aula com professor na frente falando e aluno sentado anotando? Hospital se virando como pode pra atender o pessoal com prontuário na mão? Bichos-grilos de pés descalços captando as emanações da terra por meio da ioga praticada sobre os gramados do campus? Meninas bonitas egressas dos cursinhos da vida sorvendo suco de açaí na cantina enquanto comenta, com a boca um pouco cheia, a última eliminação do Big Brother? Tudo isso é o acontecer de uma universidade. Isso tudo, e mais um monte de coisa.

Um dos aspectos mais importantes da Universidade, e que cada vez mais vem sendo ignorado pelo direcionamento careta que vai regendo seus caminhos, refere-se à sua atuação no âmbito da arte e cultura. Impossível dissociar a Universidade da vida cultural de um país. Antes, espera-se, de uma Universidade, que ela se constitua como um verdadeiro laboratório de linguagens, um centro de pesquisa e experimentação, uma produtora de signos novos, de informação nova. A Universidade recebe suas verbas para isso: para ser antena, vanguarda, pensamento avançado a serviço de uma sociedade atrasada, desejosa de melhores dias.

Todo mundo tem total conhecimento do potencial da arte, enquanto agente transformador – seja da sociedade, seja dos indivíduos. A arte diz ao corpo e ao espírito. A burocracia diz ao escritório. Se uma universidade possui mil faces, o melhor é que essa face artística, jovem, inteligente, apareça mais que a faceta engravatada, burocrática, engessada por um academicismo medieval.

Não posso deixar de dizer: de tudo o que vi na Universidade – foram nove anos estudando na UFU – o mais bonito, educativo, transformador, crítico, inteligente, vivo, foram, certamente, os eventos festivos marcados pelo signo da liberdade. Liberdade de linguagem, liberdade comportamental. Alguns deles: os Acampamentos 1998 e 2000, os papos sob os pés de Jambolão, o Projeto Cinco e Meia, as pizzadas da Arquitetura, o Samba Mandou me Chamar. Como diz o professor Roland Barthes: “não pode haver saber, sem sabor”.

O samba mandou chamar. Atende esse chamado, UFU.


Publicado na coluna Musicais, do Jornal Correio, de Uberlândia.


Star Putz Videos

oi gente

dizer: pintou um irmãozinho do star putz

blog novo


nele, vou despejar o q tem pintado de video aqui pelos computadores da STAR PUTZ PRODUÇÕES LIMITADAS.

é só produto garantido

convido os companheiros ao clique amigo

repetindo link, pq pra baixo é q se anda



beijo mil beijos

COLUNA MUSICAIS

GALVÃO BUENO DO BRASIL

O BBB vai avançando, cada semana um ou dois participantes são obrigados a desfazer as malas, desligar os microfones, dar uma choradinha e dizer adeus pro Pedro Bial. Na minha televisão aqui de casa, o BBB já começa com a eliminação total de todos os participantes. Não posso abrir mão desse trofeu: BBB sucede BBB, e eu consigo não saber o nome de um brother ou sister sequer.
Não sou de ficar chateado com a popularidade desses programas. Acho aquilo tudo de uma crueldade extrema, tão cruel quanto os programas dos datenas da vida. Como não tenho estômago pra essas coisas, não assisto, e pronto.
Cada um escolhe o que fazer da própria vida. Não é de hoje que meu gosto pessoal não se afina com o dos espectadores brasileiros. Isso não me incomoda nem me deixa feliz. Mas há um ponto de discordância entre meu gosto e o gosto da maioria (essa palavra ainda é possível?) dos brasileiros: a impopularidade do Galvão Bueno.
Soube, através de amigos, que o Galvão vem passando por um momento de impopularidade. Fiquei entristecido, com isso. Nunca me incomodei com as pessoas se devotarem ao Big Brother. Mas não acho justo o Galvão Bueno ser condenado como o chato da vez. Principalmente pelo fato de haver, a seu lado, no mesmo canal, um cara como o Pedro Bial.
Galvão (e toda sua equipe, aliás) produz um dos melhores textos da televisão brasileira. E o melhor: de improviso. As dificuldades são imensas. Galvão precisa matar um leão a cada jogo de futebol. E se sai muito bem do desafio. Seus textos são uma aula de clareza, dicção, brevidade. De música. Não são raras as vezes em que eu deixo de prestar atenção à pelada pra estar atento ao espetáculo que é a produção de textos da equipe do Galvão Bueno (o mesmo, aliás, é possível dizer quanto ao trabalho do Cléber Machado).
Então tratemos de fazer justiça: um país que aceitou tão bem um programa como o BBB não pode condenar dessa maneira um artista verdadeiro como o locutor esportivo Galvão Bueno do Brasil.

Publicado na coluna Musicais, do Jornal Correio, de Uberlândia

porcas sampa sexta


sexta sexta sexta sexta

sampa sampa sampa samoa

sesc sesc sesc sesc

santana santana santana santana

porcas porcas porcas porcas

21h 21h 21h 21h 21

promo promo promo promo

blog blog blog blog

comente comente comente comente

ganhe ganhe ganhe ganhe

ingresso ingresso ingresso ingresso

bjo bjo bjo bjo

fui fui fui fui

COLUNA MUSICAIS

RECEITA PRA FAZER SUCESSO

Pergunta inevitável, não são poucas as vezes que um músico escuta nessa vida: “ah, você tem banda? E já tá fazendo sucesso?” A resposta – a resposta mais comum – costuma ser recebida com um tom de desolação. “Não, não. Sucesso não”. Mas o papo não pode terminar assim tão triste. Porque sempre seguem os mil conselhos para uma carreira de sucesso: “mas vocês já tentaram o programa do Faustão? E o Raul Gil? Aquele quadro revela muita gente.”

Vigora, no imaginário popular, a ideia de que uma banda existe para fazer sucesso. Se não está na televisão, nos jornais, na boca do povo; se não é hit na internet, se não pode cobrar os cachês mais altos do mundo... não está valendo a pena. Uma banda longe do sucesso ainda está em sua pré-história. Vem de novo a voz do pitaco: “Já sei. Vocês precisam de um empresário.”

Essa mentalidade, claro, revela-se completamente vinculada ao século passado, aos tempos de império de uma indústria fonográfica regida pelas grandes corporações (as gravadoras). A internet criou outras possibilidades, possibilidades infinitas: através delas, podem ser projetadas as mais diversas vozes. Uma banda de Uberlândia pode criar uma página na rede, e fazer circular no mundo todo a informação artística que produz, sem dificuldade alguma.

Mas como levar as pessoas a clicarem na minha página? Aqui já cabe uma tentativa de reformulação do conceito “sucesso”. Talvez seja mais interessante, para as bandas, buscar menos o sucesso quantitativo, o sucesso entre as massas, para se voltar para a busca de um sucesso qualitativo: o sucesso no âmbito da arte que produz, e no âmbito das estratégias utilizadas para fazer com que essa arte circule.

Que sucesso interessa mais? O sucesso massivo de uma informação mal-sucedida, em termos artísticos, ou o menor sucesso de uma informação artística relevante? E não é motivo pra desânimo o tal “menor sucesso”. Muitas vezes, ele representa o sucesso absoluto. Pois qual é o máximo sucesso de uma informação artística? Tocar o interlocutor, repercutir positivamente em sua vida. Assim se completa o circuito da informação artística.

Pra terminar, uma última formulação: para quem busca uma comunicação efetiva, multiplicadora, artística, o sucesso (ou, pra usar a expressão em inglês, mais contemporânea, o “hype”) nunca é o fim, o primeiro e o último desejo. O sucesso é o meio. Através dele, mais pessoas poderão clicar na página da tal banda de Uberlândia. Uma vez clicada, é torcer para que a comunicação se estabeleça com sucesso.


publicado originalmente na coluna musicais, do jornal correio, de uberlândia